A Ciência é o que move o mundo para a frente, mas é a comunicação de Ciência que a leva até às pessoas, simplificando e desmistificando-a. O livro “Fusão Nuclear na era das alterações climáticas” da autoria do professor Bruno Gonçalves, docente do Departamento de Física( DF) e presidente do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN) cumpre à risca essa missão. A obra“Fusão Nuclear na era das alterações climáticas”, lançada recentemente, está disponível para dowload gratuito e promete contribuir para a discussão informada sobre a energia e a fusão nuclear e a fusão e sobre as formas como poderemos chegar às metas de descarbonização.
Habituado a participar em atividades de divulgação sobre fusão nuclear e sobre o papel de energia nuclear para resolver as alterações climáticas, o docente decidiu transformar a experiência acumulada numa obra que ajuda a “distinguir a fusão nuclear da Fissão nuclear”, e impulsiona uma reflexão, devidamente informada, sobre como produzimos energia elétrica e porque teremos provavelmente de considerar o nuclear – fissão no imediato e fusão no futuro – como uma opção que não deve ser descartada.
Na construção do livro, o docente não se limitou a despejar informação, arrumou-a de forma simples e acessível, juntando-lhe dados recentes e ilustrações simples, tornando o seu conteúdo verdadeiramente acessível para os mais e menos leigos, estimulando a curiosidade e uma visão crítica sobre o assunto. “A minha perspetiva é que tenho obrigação de providenciar dados e uma perspetiva científica, mas que sobretudo, tenho a obrigação de estimular a curiosidade em saber mais sobre o assunto”, salienta o docente.
Ao percorrer as páginas da obra somos confrontados com dados extremamente pertinentes como por exemplo que: a China aumentou 400% a produção de energia nuclear desde 2011 estando prevista a construção de 150 novos reatores até 2035; em França 75% da eletricidade provém da energia nuclear; 10% da produção energética a nível mundial é de origem em fissão nuclear; ou que 80 % do consumo de energia ainda resulta da queima de combustíveis fósseis.
O presidente do IPFN acredita que aquilo que a população precisa é que as opções para a descarbonização lhes sejam apresentadas de forma científica ponderando os pós e contras de forma informada. “O importante é combater a desinformação e creio que a população está hoje mais recetiva a um diálogo informado. Muitas das formas de produção de energia elétrica têm riscos associados. O problema é a perceção que temos desses riscos”, afirma. “Um acidente nuclear tem um impacto imediato. Mas raramente ouvimos falar do impacto ao longo do tempo dos gases emitidos na queima carvão, ou na radioatividade presente nas toneladas de cinzas resultantes da operação duma central a carvão, ou o que acontece às populações a montante duma barragem caso haja uma rutura desta, ou do risco de incendio em situações extremas caso haja uma falha catastrófica de um gerador eólico. São tudo riscos que existem, em maior ou menor grau, mas a grande diferença é a perceção que temos deles. O Nuclear mete medo! Cabe-nos a nós ir um pouco além desse medo e ajudar a desmistificar” denota, em seguida.
O clique que haveria de impulsionar a obra deu-se há umas semanas aquando da divulgação do resultado extraordinário do tokamak JET, tendo o record mundial de energia de fusão sido batido. “Quase ao mesmo tempo a Comissão Europeia expressou a intenção de incluir o gás natural e a fissão nuclear no pacote de energias verdes e o governo francês anunciou o investimento em mais centrais nucleares. Com todas estas novidades houve na comunicação social alguma confusão entre fusão e fissão nuclear, que inclusive já tinha sido debatida na campanha para as legislativas”, recorda o docente do DF.
O professor Bruno Gonçalves ficou a refletir no assunto durante o fim de semana, ponderando sobre como poderia contribuir para consolidar na opinião publica as diferenças que existem entre fusão e fissão e também como poderia mostrar o papel que ambas podem desempenhar. “Até que me ocorreu que esta era a mensagem das minhas palestras e que talvez o que fazia falta era escrever o que há vários anos tenho apresentado”, narra o físico. Na segunda-feira de manhã tinha grande parte do livro delineada e demorou apenas mais umas quantas noites para terminar a versão 1.0, e teve ainda oportunidade e contactar alguns professores do secundário para ter feedback e preparar a pagina de lançamento.
O docente do Técnico revela que o feedback recebido até agora tem sido entusiasta. “Muitos professores do secundário agradeceram e tiveram palavras muito elogiosas à iniciativa e ao facto de disponibilizar o livro gratuitamente. A Sociedade Portuguesa de Física (SPF) contactou-me dizendo que ia anunciar o livro na sua página de entrada e distribuir na próxima edição da Gazeta da Física, a União dos Físicos de Países de Língua Portuguesa (UFPLP) também anunciou o livro na sua página e a Exame Informática escreveu um artigo muito elogioso da iniciativa”, relata.
Até à data de ontem, 2 de março, o site onde a obra está alojada recebeu mais de 3500 visitas de diversas origens a nível mundial, tendo resultado em mais de 3200 downloads. “Toda esta aceitação tem estado muito para além das minhas expectativas e faz-me pensar porque não me tinha lembrado antes de o fazer”, confessa o docente.