O professor Mário Berberan e Santos, docente do Departamento de Engenharia Química (DEQ) e investigador do Instituto de Bioengenharia e Biociências(iBB), é o vencedor do Prémio Ferreira da Silva 2020 atribuído pela Sociedade Portuguesa de Química (SPQ). O júri, que reuniu via Zoom no dia 7 de abril, decidiu, por unanimidade, atribuir o galardão ao docente do Técnico.
Para o professor Mário Berberan e Santos, esta distinção “representa o reconhecimento do meu contributo para o desenvolvimento da Química, quer pela investigação científica, quer pelas atividades de extensão universitária”. “Pelo facto de ser atribuída pelos pares, e por ser, entre nós, a mais alta distinção em Química, sinto-me honrado, contente e grato pela escolha”, declara.
Atribuído bienalmente a um químico português que, pela obra científica produzida em Portugal, tenha contribuído significativamente para o avanço da área, o galardão homenageia o químico António Ferreira da Silva. Exatamente pela figura que evoca este reconhecimento tem “um significado especial” para o docente do Técnico. “Para além da sua obra científica, Ferreira da Silva foi o fundador da Sociedade Portuguesa de Química, organização científica que celebrará, no próximo mês de dezembro, os 110 anos, em plena vitalidade”, destaca, em seguida.
O professor Mário Berberan e Santos doutorou-se em Química pelo Instituto Superior Técnico em 1989. Fez o pós-doutoramento na Unité de Physico-Chimie Organique Appliquée (CNRS) do Conservatoire National des Arts et Métiers (Paris) e no Laboratoire pour l’Utilisation du Rayonnement Electromagnétique (LURE, Univ. Paris-Sud, Orsay) em 1990-91.
Além de professor catedrático do DEQ, é presidente do Colégio de Química da Universidade de Lisboa e coordenador do programa de Doutoramento em Química do Técnico. É também membro e fellow da Royal Society of Chemistry, da International Academy of Mathematical Chemistry, e dos Conselhos Editoriais das revistas MATCH – Communications in Mathematical and in Computer Chemistry, Methods and Applications in Fluorescence (Institute of Physics, UK), e Molecules (MDPI). No ano passado foi eleito “Chemistry Europe Fellow”, a mais alta distinção atribuída pela organização Chemistry Europe. Entre 2010 e 2013, foi presidente da SPQ.
Na lista de distinções recebidas pelo docente do DEQ constam o prémio “Estímulo à Excelência” da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (2006/2007), e duas menções honrosas do prémio Científico Universidade Técnica de Lisboa/Santander Totta (em 2008 e 2009).
No iBB, coordena o Biospectroscopy and Interfaces Research Group (BSIRG). Os seus interesses científicos atuais incidem em especial sobre a luminescência de fulerenos e de sistemas nanoestruturados em geral, e sobre a dinâmica de processos envolvendo estados eletrónicos excitados, incluindo a transferência de energia eletrónica (radiativa e não radiativa) e a fluorescência retardada por ativação térmica (TADF), e respetivas aplicações.
É o autor/editor de três livros – de entre os quais a obra “Molecular Fluorescence”, que escreveu em coautoria com Bernard Valeur -, de mais de 220 artigos e de 3 patentes.
Num estudo recente da Universidade de Stanford, foi incluído na lista dos cientistas nos 2% de topo mundiais, encontrando-se no primeiro quartil dos cientistas de Portugal da mesma lista.
O Prémio Ferreira da Silva foi instituído pela Sociedade Portuguesa de Química em 1981. É atribuído este ano pela 17.ª vez, e será entregue durante o XXVII Encontro Nacional da SPQ que se realizará em Braga de 14 a 16 de julho.
O professor Mário Berberan e Santos não é o primeiro docente do Instituto Superior Técnico contemplado com este galardão. Em edições anteriores foram agraciados com o Prémio Ferreira da Silva, os professores: Armando Pombeiro (2012), Sílvia de Brito Costa (2008), João Fraústo da Silva (2000), Alberto Romão Dias (1998), e Jorge Calado (1982).
O Técnico é mesmo a instituição de Ensino Superior com mais premiados, algo que para o galardoado deste ano é um reflexo do contributo dado nesta área. “O que se faz hoje não surgiu do nada. A Química tem raízes muito antigas no Instituto Superior Técnico, que, aliás, vêm ainda, em parte, do seu antecessor direto, o Instituto Industrial de Lisboa, fundado em 1852, e do qual transitaram alguns docentes”, realça o docente do DEQ. “As influências de Alfredo Bensaude, pela criação, em 1911, do primeiro curso superior nacional centrado na Química (Engenharia Chimico-Industrial), em moldes organizativos e de funcionamento inovadores, e de Charles Lepierre, um dos primeiros professores de Química do Técnico, com escola e larga obra, ainda hoje se fazem sentir”, adiciona. O docente do DEQ lembra ainda que houve, desde a sua génese, participação ativa de professores de Química do Técnico na SPQ, como é “o caso de Alberto Romão Dias, um dos criadores do Prémio Ferreira da Silva, em 1981, e, mais tarde, recipiente da distinção”.
O investigador do iBB sublinha ainda que no Técnico, “para além da tradição e continuidade- que irradiou para outras escolas, com premiados que também aqui começaram-, tem havido renovação, e abertura de áreas novas já com projeção significativa”. “Contudo, – e isto é um problema nacional-, o financiamento escasso da investigação e a situação precária de muitos dos investigadores mais jovens são preocupações recorrentes”, finaliza.