“Um resultado destes não se obtém em apenas um dia”. São palavras de Bruno Gonçalves, professor do Instituto Superior Técnico e presidente do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN), em relação aos dados obtidos com o Joint European Torus (JET) divulgados a 8 de fevereiro. Nas últimas experiências deste reator de fusão nuclear baseado em Culham, no Reino Unido, foram batidos recordes de produção de energia, com 69 megajoules produzidos em 5 segundos, a partir de 0,2 miligramas de combustível. Em 2021, o reator estabelecera o anterior recorde de 59 megajoules.
Vários investigadores do IPFN estiveram envolvidos na iniciativa que agora termina, ao fim de 40 anos, com o desmantelamento do JET. Múltiplos métodos de diagnóstico utilizados “tiveram uma forte contribuição portuguesa”, explica Bruno Gonçalves. Elementos como diagnósticos de micro-ondas, sistemas de aquisição de dados dos detetores de raios gama e neutrões e o sistema de controlo vertical do JET foram desenvolvidos pelo IPFN.
Resultados como estes “obtêm-se de anos de contribuição de várias gerações de investigadores”, com o IPFN a fazer parte do consórcio EUROfusion há mais de 30 anos. O Técnico, em particular, é o representante em Portugal deste consórcio responsável pelas experiências desenvolvidas no reator inglês. Segundo o presidente do IPFN, em certos períodos de tempo, Portugal chegou a ser “o sexto país [deste consórcio] mais representado em campanhas do JET”.
Este não é o único resultado inédito para a fusão nuclear proveniente do reator sediado em Oxfordshire. Já em outubro do ano passado, o consórcio EUROfusion anunciara as primeiras observações do aquecimento alfa no JET, um processo que permite a uma reação de fusão manter o seu combustível a altas temperaturas.
Estes tipo de observações poderá ser mais um passo no percurso para tornar a fusão nuclear um processo viável de obtenção de energia – o International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER), um reator atualmente em construção no sul de França, “vê nos resultados de pesquisa do JET implicações essenciais”, segundo um comunicado à imprensa feito pelo consórcio EUROfusion.