Se uma criança de Lisboa chegar a casa a falar das partículas de poluentes que todos os dias inalamos, a culpa é do LIFE Index-Air, o mais recente projeto de uma equipa do Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares (C2TN) do Instituto Superior Técnico, coordenado por Marta Almeida. O objetivo central é criar um novo instrumento de gestão da qualidade do ar, que permita aos decisores políticos locais, regionais e nacionais avaliar quantitativamente o impacto das políticas sobre os níveis de exposição humana às partículas poluentes inaláveis. Inclui também uma grande ação de sensibilização junto dos mais jovens.
O projeto começou em outubro, foi totalmente idealizado e desenhado pelos investigadores do C2TN, e a estratégia passa nesta fase inicial pela sensibilização e proximidade. “Trata-se de trabalharmos os comportamentos para que tenhamos uma evolução e uma melhoria da qualidade do ar”, explica a investigadora Marta Almeida. A aposta forte para esta sensibilização é nas crianças e nos estudantes em geral “porque achamos que se nós conseguirmos passar a mensagem a essas faixas etárias estamos no fundo a passar a mensagem para três gerações”.
Quando chegam às escolas, os investigadores começam por dizer que vêm do Técnico e que são cientistas, e a recetividade é sempre imensa. Estão a trabalhar neste momento com 24 escolas, e através de uma apresentação interativa que nunca deixa as crianças indiferentes pretendem alicerçar os conhecimentos de cerca de 6000 crianças. Depois desta sessão, as escolas assumem o compromisso de produzir um poster com doze medidas, a afixar na escola e a cumprir. Haverá também um manifesto das mesmas para o exterior acerca de tudo aquilo que aprenderam. “O objetivo final é que isto fique integrado nos currículos”, antecipa Marta Almeida.
A ferramenta em si terá vários módulos, desde a qualidade do ar, o da exposição, da dose até ao módulo dos impactos na saúde, sendo cada um deles desenvolvido por uma instituição perita nessa área. O consórcio em si foi estrategicamente montado para dar resposta a esta necessidade: a construção desta ferramenta. “Criamos uma ótima química de trabalho neste grupo e isso é a fórmula para o sucesso dos projetos”, frisa a investigadora.
Lisboa será a primeira cidade onde a ferramenta será implementada e onde através deste levantamento aprofundado vai ser otimizada, sendo depois estendida às outras cidades: Porto, Atenas, Kuopio e Treviso. “Queremos tornar a ferramenta o mais versátil possível para que se possa utilizar em qualquer cidade”, partilha Marta Almeida. O projeto é financiado pelo EU Life e o apoio ronda os 1.4 milhões de euros.