Campus e Comunidade

40 anos de uma história escrita a muitas mãos e pautada pela excelência

Mesmo que em circunstâncias muito diferentes das idealizadas, celebrou-se esta quarta-feira, 16 de dezembro, o 40.º aniversário do Departamento de Física (DF) do Técnico. Recorrendo às plataformas digitais e através de um programa muito diverso que se estendeu ao longo de todo o dia, a celebração reuniu, como é tradição nestes momentos, todos os elementos “da família”: docentes, investigadores, alumni e atuais alunos. Nem os potenciais futuros alunos foram esquecidos, e por isso várias turmas do secundário juntaram-se a uma das atividades comemorativas: a palestra com o Prémio Nobel da Física 2020, professor Reinhard Genzel.

A celebração teve vários momentos e todos eles reproduziam a capacidade de construir e transmitir conhecimento que carateriza o DF e quem dele faz parte, e no alinhamento da cerimónia foi sempre surgindo a capacidade e vontade de recordar os nomes que foram rubricando este sucesso. O crescimento permanente, a liderança em programas científicos e de educação, o cumprimento da missão de levar a cultura científica à sociedade, e as gerações de engenheiros e cientistas formadas foram sendo evocados nas várias intervenções.

O presidente do Técnico, professor Rogério Colaço abriria a cerimónia, felicitando o DF e agradecendo o contributo e empenho de todos os que o integram. Regressando no tempo até à data de criação da Escola, o professor Rogério Colaço lembraria “que o ensino da Física foi considerado fundamental na formação dos engenheiros desde os primórdios do Técnico”.  Destacando “a responsabilidade do DF na criação e no acompanhamento da formação em Engenharia Física Tecnológica”, o presidente do Técnico sublinhou a capacidade que este curso tem de atrair “e captar de forma consistente os melhores talentos que temos no país”. “Estou certo de que esta capacidade de atração dos melhores alunos irá continuar a acontecer no futuro dada a qualidade da formação e o empenho de todos vós”, disse.

Numa ocasião tão especial como esta, e por entre “as muitas pessoas notáveis que integram o DF e que que têm desenvolvido um trabalho notável em prol da ciência, da formação, do ensino e das políticas de Ciência e de Ensino”, o presidente do Técnico não pôde deixar de mencionar o nome do professor do Mariano Gago.  “Além de ser um professor ilustre da nossa Escola, foi um docente ilustre de Física e uma pessoa que indiscutivelmente marca a Ciência, o desenvolvimento científico e tecnológico, e a nossa capacidade de produzir e transmitir conhecimento, de uma forma incontornável”, acrescentou.

Citando várias vezes Alfredo Bensaude, o presidente do Conselho Científico (CC), professor Luís Oliveira e Silva, aproveitaria o momento para homenagear o corpo de docentes do DF que desempenha um papel tão importante no “impacto que o departamento tem no Técnico e no próprio país”. Nesta homenagem não se cingiu ao presente, e lembrou os nomes históricos do DF como os professores Jorge Dias de Deus, Carlos Matos Ferreira e também ele não esqueceu José Mariano Gago. “Estes três professores compreenderam que a ação dos professores universitários como líderes académicos e como intelectuais deve expandir-se para fora dos seus gabinetes. Também entenderam que ser professor universitário é ter a liberdade e a responsabilidade para pensar e fazer diferente, e fazer sempre melhor em prol da nossa escola e da nossa sociedade”, salientava.  “O seu legado é tremendo, é esse legado de impacto social, político e científico que cabe também a cada um dos nossos professores manter e amplificar”, completava o docente.

Através dos testemunhos de membros de anteriores comissões executivas e de antigos alunos foi possível recordar o percurso admirável e a visão disruptiva dos professores Manuel Alves Marques, Carlos Matos Ferreira, Jorge Dias Deus e novamente de Mariano Gago, os primeiros quatro presidentes que marcaram o departamento pela capacidade de trabalho. No meio das muitas memórias, de um legado imenso, e de muitas aprendizagens “inesquecíveis”, sobrou sempre tempo para elogiar o departamento e evocar as felicitações para os próximos anos. “O Departamento de Física é extraordinário, deu-me sempre todas as condições para desenvolver as minhas atividades científicas e lecionar as disciplinas que gosto”, declarou o professor José Sande Lemos.

Através de um vídeo que permitiu uma viagem pelas últimas 4 décadas, a presidente do DF, professora Teresa Peña sublinhava que “o departamento cresceu sempre a acompanhar o contexto internacional e consolidou, sem nunca o cristalizar, o trabalho dos seus fundadores”. Lembrando o sucesso e a visão que timbra o curso de Engenharia Física Tecnológica, a docente reforçava a ideia de que a diáspora do curso “vibra hoje em posições de liderança em vários continentes”.  Independentemente das mudanças que certamente surgirão, o departamento “não vai parar de evoluir, saberá manter-se brilhante, inclusivo e a trabalhar para um futuro melhor de todos”, expôs a docente.

Naquele que foi o seu último ato público enquanto presidente do DF, a professora Teresa Peña deixaria ainda os seus votos das maiores felicidades para a próxima comissão executiva que será liderada pelo professor Vítor Cardoso a quem passaria, posteriormente, a palavra.

Denominando o momento como “muito especial”, o professor Vítor Cardoso agradeceu à professora Teresa Peña e a toda a comissão executiva por dirigirem “esta casa e esta família num contexto tão complicado como o que vivemos”. “Sobretudo obrigada por esta homenagem aos que já passaram por cá, muitas das histórias que ouvi, não as conhecia, e acho que isto é algo que precisamos: memória”, acrescentou. Recordando que também ele é “filho desta casa e de muitas destas pessoas que fomos lembrando”, o docente realçou que foi o DF e os seus professores que o estimularam “a continuar a minha formação e a procurar alargar os meus horizontes”.  Para o professor Vítor Cardoso esta “casa é única para se fazer trabalho intelectual e fundamental de investigação”. “A razão é muito simples: os alunos são extraordinários, é um panorama único, temos alunos muito bons à nossa volta”, justificou.

Os ensinamentos e a inspiração retirados pelos antigos alunos

O presidente do Conselho Científico, também ele antigo aluno, conduziria o painel seguinte que ajudou a celebrar as centenas de alunos graduados ao longo destes anos, percecionando-se, através do mesmo, a diversidade de carreiras que esta formação em Física Tecnológica permite construir.

Francisco Veloso, Dean da Imperial College Business School, destacou “a excelente experiência de aprendizagem pautada pela profundidade de conhecimento e exigência, mas também pelo despertar da curiosidade intelectual” que vivenciou enquanto aluno do Técnico. Ao longo do seu percurso, e mesmo tendo enveredado pelas questões de inovação e de empreendedorismo, o alumnus sempre se sentiu “muito bem preparado” e destacou várias vezes que a sua formação académica e todas as experiências que vivenciou no Técnico foram “uma excelente plataforma para o futuro”.

Assumindo “uma tal identificação imediata com as pessoas do Departamento de Física sempre em cada encontro”, Francisca Leite, diretora do Hospital da Luz Learning Health explicou como orientou a sua carreira mais na área da saúde e evidenciou que o curso de Física Tecnológica foi “uma grande pedra angular” neste percurso. Entrar numa “universidade de elite” e fazer parte de “um departamento com um rigor, exigência e uma excelência como este” incutiu na alumna “uma vontade permanente de continuar sempre a aprender, sempre a procurar os maiores desafios”.

A estes dois antigos alunos juntar-se-iam outros como: Pedro Conceição , Director of the Human Development Report Office das Nações Unidas, Luís Bettencourt, Director of the Mansueto Institute for Urban Innovation da University of Chicago, Susana Freitas, docente do DF e investigadora do INESC-MN,  Nuno Loureiro, professor e investigador no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Samuel Martins,  Director of Business Development and Strategy na Microsoft, Filomena Nunes, professora e investigadora na Michigan State University, entre outros.

A vontade de “construir, desenvolver e explorar” que se respira no departamento e contagia os alunos, a inspiração que se encontra “no brilho no olhar dos docentes”, “o crescimento e a inovação que pautaram estas décadas”, “a entreajuda que domina as relações” e “a vontade de continuar a aprender e a resolver problemas”, foram alguns dos sentimentos que as memórias dos antigos alunos ajudaram a evidenciar e que permitiram retratar esta passagem pelo DF.

O NFIST e o reconhecimento da excelência académica também fazem parte do percurso 

Antes de moderar a sessão que colocou o foco nos atuais alunos, o professor Ilídio Lopes, docente do DF, lembrou que o departamento tem, além de todas as valências que foram sendo enumeradas, uma “cultura variada feita de pessoas com muitas formações, doutoradas em vários países”. O docente frisaria ainda que esta excelência que carateriza o curso deve-se “ao empenho tanto dos alunos como dos docentes”.

A palavra seria depois entregue à presidente do Núcleo de Física do Instituto Superior Técnico (NFIST), a aluna Íris Brée. Através de um vídeo, a audiência do evento pôde conhecer o núcleo, a essência do trabalho que realizam, a diversidade de atividades realizadas, e a forma como este grupo de alunos dissemina a magia da Física. O NFIST fez questão de realçar, através da sua presidente a colaboração estreita e permanente do núcleo com o DF ao longo dos anos e em muitas atividades. Afinal, e como lembrava Íris Brée, “todos partilhamos a paixão por aprender e ajudar outros a aprender”.

Seriam depois dados a conhecer os vencedores dos prémios “Excelência Académica do MEFT”. As duas menções honrosas seriam entregues aos alunos Raul Monteiro (2.ª) e Afonso Rufino (1.ª). O vencedor do prémio referente ao passado ano letivo foi o estudante Martim Simões.

Um futuro com “mais e melhor Física”

Também o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, professor Manuel Heitor fez questão de deixar o seu depoimento nesta celebração. Na mensagem de vídeo partilhada, começaria por declarar que “comemorar os 40 anos do Departamento de Física deve encher-nos de orgulho”.  Relembrando que 1980 – ano da criação do mesmo- “Portugal formava menos 100 novos doutores por anos, e hoje formamos mais de 2500”, o ministro assinalava que “esta transformação só se faz com mais ciências fundamentais e o papel da Física e deste departamento numa escola de Engenharia foi perfeitamente transformador”. “Engenheiros de Física Tecnológica estão hoje nas mais variadas instituições públicas e privadas, a nível nacional e internacional”, enalteceu, em seguida, o governante.

Segundo o professor Manuel Heitor “não conseguiríamos sobreviver sem a interdisciplinaridade, sem mais e melhor Física integrada em todas as áreas das ciências da vida, certamente às engenharias, mas também a interação com as ciências humanas e as ciências sociais”. “Todos aqueles que ao longo destes anos tiveram a perceção de interagir entre a Física e a sociedade real, enquanto professores do Técnico, deram-nos essa experiência de perceber o interesse intrínseco que esta área desempenha no desenvolvimento humano”, enalteceu por fim.

A primeira parte da celebração encerraria da melhor forma com um slide com todos os professores que passaram pelo DF e que ajudaram ao longo destes 40 anos a construir este percurso radioso. Após algumas horas, a comemoração seria retomada com a entusiasmante palestra de um dos vencedores do Prémio Nobel da Física 2020.