O calendário ditou que a comemoração do Dia do Técnico se faria um dia mais cedo este ano, agendando-se a cerimónia para esta sexta-feira, 22 de maio. O panorama pandémico obrigou a uma cerimónia que mesclou o presencial e o digital, de forma a assinalar a data e não excluindo ninguém da celebração. A sala que costuma ser invadida por uma enchente de docentes, investigadores, funcionários e alunos contou, este ano, apenas com a presença daqueles que as normas permitiram. Os sorrisos rasgados dos que gostam de celebrar a vida da instituição foram escondidos pelas máscaras, os abraços de quem felicita os distinguidos tiveram que ser contidos, mas a união e a vontade de impactar foram as mesmas, e estiveram mais salientes do que nunca.
O professor Rogério Colaço, presidente do Técnico, abriria a cerimónia deixando esta ideia bem clara no seu discurso. Frisando que apesar dos seus 109 anos, o Técnico “continua tão jovem, tão inquieto, irreverente e tão audaz como quando foi criado”, o professor Rogério Colaço enaltecia o “espírito sempre renovado, “que tem permitido sempre ao Técnico ultrapassar os muitos desafios, as dificuldades e as pedras que têm surgido no nosso já longo caminho”. E se dúvidas disso houvesse, dizia, “o grande e estranho desafio que nos surgiu há menos de 3 meses teria permitido dissipá-las”. Depois de apontar a forma eficaz como o ensino da escola foi adaptado ao modelo à distância, “num curtíssimo espaço de tempo” e de forma eficaz, o presidente do Técnico vincou o papel determinante da instituição “na verdadeira revolução silenciosa que tem acontecido e que continua a acontecer no nosso país”. Por isso mesmo, não deixou de expressar a sua “admiração e agradecimento” aos envolvidos em todos os projetos de combate à pandemia.
“Ganha a primeira batalha, iniciamos agora o regresso”, afirmava o professor Rogério Colaço de olhos postos num futuro breve que, como assegura, será regido “pela existência das condições mínimas de segurança que a todos tranquilizem”. “É um regresso necessário que temos que fazer e pelo qual todos ansiamos há muito”, acentuou. Por isso mesmo, se tivesse que escolher uma palavra para este aniversário, o presidente do Técnico optaria pelo verbo “recomeçar”. “Um recomeço que é absolutamente necessário e que tenho a certeza que irá correr bem”, rematou com otimismo.
Francisco Santos, presidente da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST), seria o porta-voz dos estudantes na cerimónia e não esqueceu esse papel no positivo discurso que proferiu. Definindo a escola como um “espaço propicio à aprendizagem e ao desenvolvimento de novas ideias sempre suportado pelo espírito crítico necessário à progressão”, o presidente da AEIST enunciava como ingredientes do sucesso: a “capacidade do Técnico de captar os melhores alunos”, “o rigor” que se reflete na produção de conhecimento, mas também “a vida” resultante das inúmeras atividades extracurriculares promovidas pelos alunos. Elogiando também a capacidade de resposta da escola para ultrapassar os constrangimentos trazidos pela pandemia, e o papel da comunidade do Técnico, no combate à mesma, Francisco Santos declarou que “é exatamente este espírito intemporal que se vê nestes 109 anos do Técnico que me dá a certeza que os próximos 109 serão ainda melhores”.
As intervenções seriam interrompidas para a exibição de um vídeo de homenagem aos docentes, investigadores e funcionário não docentes que cumprem 25 anos de serviço e dedicação ao Técnico.
“O mais importante do Técnico são os seus recursos humanos” Ricardo Santos, investigador LAIST
Ricardo Santos, funcionário não docente do Laboratório de Análises do Instituo Superior Técnico (LAIST), não foi aluno da escola e começou a intervenção partilhando isso mesmo, propositadamente e para demonstrar como este modo de “ser Técnico” se pode aprender, apreender e depois transmitir. Revolvendo o seu percurso na instituição, destacou a sorte que teve com as equipas que integrou: “sempre me ajudaram, me ensinaram a pensar, a evoluir, desafiaram-me todos os dias para ser melhor e para fazer um melhor trabalho, e basicamente ensinaram-me o que era ser Técnico”. Para o investigador do LAIST “o mais importante do Técnico são os seus recursos humanos”, e por isso louvou a capacidade de trabalho de docentes, investigadores, funcionários e alunos que “lutam para conseguir ser melhor todos os dias”. Sobre estes tempos mais difíceis preferiu sublinhar a “abnegação incrível” destes recursos humanos “para ajudar quem precisava e para continuar a manter o nome do Técnico”. “Tenho a certeza que eu atualmente sou Técnico e que somos todos Técnico”, concluía.
“É para reconhecer os nossos sábios, os professores mais influentes da nossa instituição que lideram a nossa comunidade de acordo com os padrões académicos mais elevados que é atribuído anualmente o título de professor distinto do Instituto Superior Técnico”, explicava o professor Luís Oliveira e Silva, dando a entrada para o momento de homenagem que se seguia e chamando a palco o docente que este ano recebe a distinção: o professor Arlindo Oliveira.
“O Técnico representou e representa para mim a instituição mais central da minha vida” professor Arlindo Oliveira, professor distinto
Começando com o sentido de humor que lhe é conhecido, o professor Arlindo Oliveira quis que o seu discurso refletisse a importância que confere a esta distinção, mas, acima de tudo, quis deixar bem patente o valor e o significado da instituição que a entrega. A emoção espreitou várias vezes enquanto referia a “honra” e gratidão” perante este reconhecimento, não esquecendo os agradecimentos a quem para ela contribuiu, com apoio ou trabalhando consigo. “O Técnico representou e representa para mim a instituição mais central da minha vida”, frisava, apontando os motivos para que assim seja, nomeadamente o impacto que a escola teve na pessoa que hoje é: “alguém que acredita na inteligência, no conhecimento, na ciência e tecnologia como as forças mais importantes para o desenvolvimento da humanidade”.
Para o professor Arlindo Oliveira este reconhecimento surge também pelo contributo enquanto presidente da escola nos últimos anos, e ver “essa atividade ser reconhecida como valiosa pelas pessoas que decidiram a atribuição desta distinção é muito reconfortante e enche-me de orgulho”. Elogiando a resposta exemplar da escola e dos seus órgãos de gestão neste momento adverso, o professor Arlindo Oliveira não esqueceu o futuro, e os desafios determinantes que se impõem, e por isso mesmo lembrava o tanto pelo qual o Técnico já passou, apresentando a sua convicção de que a escola “vai ultrapassar esta pandemia sem deixar de ser o que é”.
Cumprir-se-ia, depois, um dos momentos mais icónicos do Dia do Técnico ao homenagerar-se a excelência no ensino, enumerando-se os nomes dos mais de 240 docentes excelentes distinguidos pelos alunos através do Sistema de garantia da Qualidade das Unidades Curriculares (QUC). Antes, os presidentes dos vários departamentos fizeram chegar as suas felicitações por vídeo, saudando a “dedicação”, “a inovação pedagógica” e “o esforço” que pauta a ação destes docentes.
“Este prémio é uma grande honra numa casa que inspira e motiva todos os docentes a serem melhores” professora Sofia Sá, vencedora do Prémio IST Excelência no Ensino
O prémio “IST Excelência no Ensino” é também o resultado das respostas dos alunos aos QUC. Este ano, os contemplados foram o professor Gabriel Pires (1.º ciclo) e a professora Sofia Sá (2.º ciclo).
Agradecendo a simpatia dos estudantes que o escolheram, o professor Gabriel Pires aproveitou o momento para incentivar os presentes para, através de um gingar do corpo e um aplauso, homenagear “aqueles que permitem que o ambiente em Portugal comece a desanuviar: os nossos profissionais de saúde”. Partilhou também duas preocupações que o inquietam: o facto de a matemática, a sua área de formação, “estar a caminhar para a diminuição dos conteúdos programáticos”; e a segunda relacionada com a capacidade de ser necessário criar “ferramentas para que a avaliação online dos alunos garanta a igualdade, a justiça e evite a fraude”.
Depoisde confessar a surpresa por “receber este prémio num semestre em que tinha 420 alunos, e ainda andava às turras com o Fenix”, a professora Sofia Sá também fez questão de mostrar a sua gratidão para com todos os que contribuíram para a docente que é hoje. “Este é também um dos prémios dos meus alunos, aqueles que no fim das aulas me dão o feedback que me ajuda a aprender e a ajustar o meu ensino”, referia. Garantindo o quão fulcral é esta recolha de feedback “que abre um mundo de possibilidades”, partilhava outro dos pilares do seu ensino: a autenticidade, permitindo-se ser ela própria e não escondendo vulnerabilidades, e assim incentivando os seus alunos para o mesmo. “Este prémio é uma grande honra numa casa que inspira e motiva todos os docentes a serem melhores” referia, por fim.
O professor António Cruz Serra, reitor da Universidade de Lisboa ( ULisboa), dirigiu as suas primeiras palavras fossem de agradecimento para com todos “aqueles que permitiram o ensino à distância, professores e alunos, e para com todos aqueles que trabalharam para que os serviços continuassem a funcionar”, mas, em especial, a todos aqueles que por toda a Universidade contribuíram para o combate à pandemia. “A Universidade demonstrou que o conhecimento, a ciência, a capacidade instalada, mas também o entusiasmo e o nosso sentido de responsabilidade e para com a nossa sociedade são fundamentais para que Portugal continue a progredir”, afirmou.
Partilhando o seu desejo de que tudo regresse à normalidade o mais rápido possível, o reitor realçava que “a Universidade fará tudo para termos um ensino com a maior normalidade possível”. Deixando uma mensagem de esperança e de otimismo em relação ao recomeço, o professor António Cruz Serra terminaria partilhando as suas “saudades desta casa” e também que está “desejoso de voltar a dar aulas de instrumentação eletrónica”.
Para que esta celebração fosse também da sua comunidade, o alinhamento da cerimónia foi sendo colorido com a gratidão, as saudades, as boas recordações e os desejos de sucesso de vários antigos alunos, representantes da rede de parceiros, alunos, docentes, investigadores e funcionários. A fechar com chave de ouro o lote de vídeos e a cerimónia, ouviu-se a mensagem de António Guterres, Secretário-geral da ONU e alumnus da escola. “Se hoje tivesse que entrar para a universidade sabendo que ia fazer da vida aquilo que fiz, eu teria voltado a entrar no Instituto Superior Técnico”, referiu sem hesitar, e com o orgulho que esteve em todas as intervenções do dia.