Campus e Comunidade

Debate junta protagonistas do movimento estudantil

A iniciativa pretende destacar a importância, e promover a partilha de histórias em torno do Movimento Estudantil no Técnico entre 1967 e 1974,

A luta, as motivações, a estreita ligação à sociedade, os momentos difíceis, as amizades que se fortaleceram e as lições que se retiram foram relembradas de forma emotiva, esta terça-feira, 29 de maio, por alguns dos principais protagonistas do movimento estudantil no Técnico, no primeiro de uma série de debates organizados pela Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST) em torno da temática.

O Salão Nobre encheu-se de vários antigos alunos do Técnico e de outras Escolas, prontos para ouvir e narrar sob diversas perspetivas os principais momentos de contestação no período entre 1967 e 1974, embora muitas vezes as histórias fossem para além do intervalo de tempo definido. António Mota Redol, Fernando Sacramento e Carlos Costa, ex-presidentes da AEIST, respetivamente nos anos de 1965-1966, 1967-1968 e 1972-1974 eram os oradores que tinham como intuito lançar o debate, moderado por José Pacheco Pereira.  “Este é um período significativo de modificações no contexto político e no movimento estudantil nacional e internacional”, reiterava José Pacheco Pereira no inicio da sessão. “A AEIST teve um papel central no movimento estudantil de Lisboa quer pela dimensão que tinha, quer pela mobilização e estudantes que registava”, acrescentava ainda antes de passar a palavra aos oradores.

E como se as palavras não chegassem para nos levar até à época, a forma como as entoavam não deixava que fosse de outra maneira. “O ano de 1962 foi definitivamente o momento de rutura do movimento estudantil com o regime”, frisava António Mota Redol. “Nesse ano há um encontro de associações que já é proibido”, relatava de seguida. “Foi uma época de formação de novas visões do mundo, de novos modos de liderança”, destacava por sua vez Fernando Sacramento, que de vez em quando recorria a títulos de músicas para colorir o seu discurso e “os tempos de mudanças que se avistavam”. “Tivemos o cuidado de não sermos uma elite restrita ao nosso espaço”, destacava de seguida Fernando Sacramento.

Rapidamente a história seguia no mesmo tom, com detalhes semelhantes e adjetivos comuns, mesmo que o orador mudasse. Quando se relatavam momentos difíceis, os semblantes pareciam voltar a vive-los, como quando se falou das cheias de 1967. “As informações passavam para fora nessa altura porque nós fazíamos a ponte”, afirmou Fernando Sacramento, presidente da AEIST na altura. “Foi uma luta muito complicada e importante, complicada não só pelo sacrifício pessoal dos dirigentes, mas também dos próprios estudantes”, realçava Carlos Costa. O relato das lutas permanentes, do medo, da revolta, dos policias a cercarem o Técnico, os dirigentes suspensos, e os estudantes proibidos de se matricular ocuparam grande parte dos discursos. “Foi uma luta extremamente violenta que foi travada em condições complicadas de repressão, com algumas vitórias, com algumas derrotas, com um sabor que ficou para todos nós”, declarou posteriormente Carlos Costa que chegou a ser torturado em Caxias.

E porque muitos episódios havia para acrescentar à narrativa passou-se a palava à audiência. A partilha de emoções e as expressões emotivas e de uma revolta que regressa com as memórias mantiveram-se por largos minutos, mudaram-se só as faces.