O Projeto Arco do Cego, dirigido pelo professor João Gomes Ferreira, vice-presidente do Técnico para as Instalações e Equipamentos, e com coordenação dos professores Teresa Heitor e António Barreiros Ferreira, teve início em 2013, com a cedência do espaço da antiga gare do Arco do Cego, pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), ao Técnico. Hoje, tem objetivos perfeitamente definidos, que passam pela integração no campus, pela reabilitação e consolidação do património e ainda pela possibilidade de ser utilizado de forma autónoma.
“O edifício tem um grande valor patrimonial e há uma relação com a cidade que quisemos manter (e foi, aliás, um pré-requisito da CML)”, explica o professor José Maria Lobo de Carvalho, responsável pelo estudo prévio de salvaguarda e valorização patrimonial. “Isso implica também uma grande responsabilidade, porque não podemos começar do zero, mas torna o desafio muito mais interessante, tem necessariamente que ser feito com criatividade.”
Neste momento, a equipa terminou o estudo prévio do edifício existente – que é, atualmente, uma estrutura de estacionamento público com uma única fachada – e aborda alguns problemas específicos de criar um espaço com ocupações tão distintas como as que terá o Arco do Cego. “Ao ceder o edifício, a CML colocou-nos alguns condicionamentos: a integração do posto de Sapadores Bombeiros é uma das principais, e uma enorme dor de cabeça”, lembra a professora Teresa Heitor. “É tudo menos simples fazer a integração de espaços com características muito específicas que entram em conflito com outros usos.”
No novo espaço do Arco do Cego, que está a ser pensado com uma organização por volumes, coexistirão o posto de bombeiros, uma área de estudo 24 horas e uma zona de utilização multiusos, bem como um conjunto de serviços comerciais e de restauração. Essa lógica, que se traduz em módulos funcionais, “organizará as diferentes valências que existem” e “permitirá que o projeto se desenvolva sem interferir com a estrutura existente”, explica Ana Rita Gonçalves, que integra a equipa de trabalho.
Apesar da manutenção da fachada e da estrutura da gare, um edifício industrial do final do século XIX, os novos acabamentos primam pelas linhas contemporâneas e houve, no novo projeto, uma intenção clara de promover a interação entre o interior do edifício e o jardim. “É um campus que se abre ao jardim, um campus que se abre à cidade”, destaca José Maria Lobo de Carvalho.
A ligação à cidade é, aliás, um dos pontos de partida para o projeto que se pode ver nestas páginas. “As dinâmicas da cidade fizeram alterar o acesso ao campus [na Alameda], e valorizaram aquilo que antes eram as suas traseiras”, explica Teresa Heitor. “A integração do Arco do Cego vem nesse sentido.” E a utilização deste espaço pelos utentes da cidade, através da zona multiusos ou do posto de bombeiros, reforça essa ligação. “Este não é um espaço dedicado só aos estudantes”, garante Ana Rita Gonçalves.
Neste momento, a fase “mais criativa do projeto”, levada a cabo pela equipa de Projetos de Arquitetura, composta pelo professor António Barreiros Ferreira, como coordenador, Daniel Rego, Ana Rita Gonçalves, Katherine Both e Maria João Tato, já chegou ao fim. Estudam-se agora algumas soluções críticas para a utilização do espaço, como o isolamento térmico ou acústico, que representa “o maior conflito” entre as valências do novo edifício, explica Katherine Both.
Para estes quatro antigos alunos do curso de Arquitetura no Técnico, participar num projeto com esta dimensão é “uma oportunidade espetacular”. “É muito aliciante, até por uma questão de afetividade, porque estamos a melhorar aquela que é a nossa casa”, afirma Maria João Tato. Além disso, lembra Daniel Rego, “tivemos tantos grandes arquitetos a trabalhar aqui, como o Pardal Monteiro… e os próximos a intervir somos nós”. “É um projeto icónico”, reforça José Maria Lobo de Carvalho.