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ISTSat-1: Satélite totalmente desenvolvido no Técnico chegou ao Espaço

À boleia do foguetão Ariane 6, da Agência Espacial Europeia (ESA), o ISTSat-1 torna-se o primeiro nanossatélite universitário português a ser lançado para o espaço.

A ansiedade é palpável – e o caso não é para menos. Um mar de cabeças fixa atentamente o grande ecrã montado no átrio do polo de Oeiras do Instituto Superior Técnico às 19h59 do dia 9 de julho, aguardando que a contagem decrescente feita a partir da Guiana Francesa chegue ao zero e que o foguetão Ariane 6 descole. Para muitas destas pessoas, vai um conhecido a bordo – o ISTSat-1, o primeiro nanossatélite universitário português a ser lançado para o Espaço, totalmente construído no Técnico por investigadores e estudantes do Técnico afectos ao IST NanoSat Lab, que agora sustêm a respiração até ao momento em que o relógio marcar 00:00:00.

E o momento finalmente chegou. Após a ignição dos motores e a subida pela atmosfera, a tensão ia sendo gerida de forma faseada, à medida que a voz do diretor de voo, a cada 20 segundos, anunciava “trajectoire nominale!” – a confirmação de que tudo continuava a decorrer como previsto. No polo de Oeiras, houve várias ondas de aplausos à medida que o veículo se aproximava da marca dos 580 quilómetros, altitude à qual o ISTSat-1 irá circundar o planeta. Estabelecida a órbita, a atividade e dados recolhidos pelo satélite serão monitorizados pela equipa do Técnico na estação-terra em Oeiras. O intuito principal deste equipamento é monitorizar a presença de aviões em zonas remotas do planeta, de díficil deteção a partir da superfície.

A tarde foi ocupada por um evento em antecipação do lançamento na Guiana Francesa, com a presença de Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação, Luís Ferreira, reitor da Universidade de Lisboa, Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras, membros das equipas envolvidas na construção do nanossatélite e outros participantes curiosos.

Rogério Colaço, presidente do Técnico, abriu a cerimónia confessando “algum nervosismo depois de anos de trabalho e esforço para criar um satélite capaz de passar nos testes da Agência Espacial Europeia [(ESA, na sigla inglesa)]”. “Se há coisa que no Técnico é possível fazer”, avançou, “é concretizar sonhos, torná-los realidade, seja isso construir um satélite ou inaugurar uma spin-off, um unicórnio”. O docente garantiu que este foi um passo importante na entrada do país na corrida ao Espaço, uma corrida que considera ser “absolutamente determinante para Portugal, seja para monitorizar o espaço aéreo, marítimo ou terrestre”. O lançamento deste satélite representou, para si, “a passagem do Cabo das Tormentas” nesta área, um “ponto de não retorno” no desenvolvimento aeroespacial do país, equiparável aos primeiros passos dados há centenas de antes pelos navegadores que iniciavam então a exploração dos oceanos.

“Parabéns, Técnico! Obrigado, Técnico!”. Com estas palavras de júbilo, o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, saudou o papel da Escola e dos mais de 50 professores, investigadores e estudantes na construção e lançamento do ISTSat-1. “Ir mais além, mudar a vida das pessoas, resolver os problemas do país e do mundo – é isso que faz o Técnico e, portanto, é um grande orgulho tê-lo na Universidade de Lisboa”, proclamou o reitor.

Escolhendo entre 13 universidades concorrentes que apresentaram os seus protótipos para viajar a bordo do Ariane 6, o departamento de educação da ESA selecionou o Técnico e outras cinco instituições universitárias para ingressar no programa ‘Fly Your Sattelite!’ (no lançamento final, a par do Técnico, só a Universidade Politécnica da Catalunha também colocou um satélite a bordo). A iniciativa procurou apoiar estudantes a construir, testar e lançar os seus satélites, fornecendo apoio técnico, infraestruturas de teste e o financiamento do lançamento na Guiana Francesa. Munido deste incentivo, o desenvolvimento do ISTSat-1 (que tinha lugar desde 2008) ganhou novo fôlego, culminando neste lançamento, apadrinhado no Técnico pelos professores do Técnico e investigadores Moisés Piedade (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Investigação e Desenvolvimento) e Rui Rocha (Instituto de Telecomunicações), este último a acompanhar o processo no local.

A programação do evento incluiu um debate que decorreu à sombra do Baltasar, o primeiro rocket português a ser lançado e recuperado com sucesso, exposto ao lado do palco. Moisés Piedade, um dos mentores do projeto que deu origem ao ISTSat-1, recordou que, ao fazer este satélite, os investigadores e estudantes criaram os componentes de raiz, “mostrando que, em Portugal, há esta capacidade”. Zita Martins, vice-presidente do Técnico para os Assuntos Internacionais e líder de um comité de aconselhamento científico da ESA para a exploração do Sistema Solar, frisou o papel da Escola na área das ciências do Espaço, lembrando que “o Técnico teve o primeiro laboratório de Astrobiologia do país e foi a primeira instituição a lecionar nesta área”. “Temos laboratórios que lideram cientificamente e com ligações à ESA e à Agência Espacial Japonesa”, elencou.

Fernando Lau, coordenador da Licenciatura e Mestrado em Engenharia Aeroespacial, manifestou o desejo de ver esta engenharia com papéis no transporte civil e na cadeia de abastecimento, de forma a que Portugal possa ter o benefício de entrar cedo nesta indústria. Júlia Martinho, membro do Núcleo de Engenharia Aeroespacial do Técnico (AeroTéc) em representação do Rocket Experiment Division (RED), partilhou que “projetos destes são imprescindíveis para estudantes; são o que nos ajuda a fazer as nossas escolhas profissionais”. “Sinto que o RED foi muito importante para mim, ao ter contacto com muitas áreas cedo na minha licenciatura”, assegurou, a título de exemplo.

Durante o evento, foi também assinalada a criação do Oeiras Valley Space Hub, uma parceira entre o Técnico, a Câmara Municipal de Oeiras, o Centro de Engenharia e Desenvolvimento (CEiiA) e o AED Cluster com vista a dinamizar um polo tecnológico na área das ciências do espaço daquele município.

O projeto IST NanoSat Lab teve o suporte financeiro do Técnico, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores: Investigação e Desenvolvimento (INESC-ID), do Instituto de Telecomunicações (IT) e do Instituto de Engenharia Mecânica (IDMEC). Contou também com a participação de elementos do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR Lisboa), bem como com o apoio de várias empresas ligadas ao sector.

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