O João e a Beatriz não conhecem a Inês e a Leonor, mas têm várias coisas em comum com elas, e desde esta quarta-feira, 23 de maio, que se somou mais uma à lista: a participação no Keep in Touch 2018. Para além disso são filhos e irmãos de antigos ou atuais alunos do Técnico e ouvem todos os dias “falar da magia da engenharia”, das “saudades do Técnico” ou “de tudo o que se faz nesta escola”. E por isso mesmo “não foi preciso muito” para os convencer a fazer uma viagem no tempo pela mão dos melhores guias possíveis. “Mal ele falou nisto, eu vim logo claro!”, exclama Leonor, sob o olhar atento do irmão, Fernando Oliveira, aluno de Engenharia Informática. “Robôs? Há robôs?”, questiona Leonor, com um tom de irritação que revela o facto de ser incapaz de perdoar o irmão por não a ter colocado a par de tudo o que tornaria a aventura inesquecível.
Uns minutos antes de Leonor, chegara Inês Sinogas com os irmãos e o pai, Pedro Sinogas, alumnus do Técnico. Veio ver a “exposição que a mãe organizou e conhecer o sítio que os pais tanto falam”, explica. Quer ser engenheira ou cantora, mas hoje a engenharia ganha à música, “e se calhar no fim do dia só vou querer ser engenheira para sempre”, diz com um sorriso traquina que lhe denuncia a ansiedade por sair dali. “Estas iniciativas são extremamente interessantes para nós e para o Técnico, não só para celebrar a história da Escola, mas para nos juntarmos todos, e mostra também que o Técnico finalmente percebeu que pode e deve tirar partido de tudo o que os antigos alunos têm para lhe dar”, frisa Pedro Sinogas, enquanto vai tentando conter a agitação dos filhos por passarem à fase seguinte da “viagem”.
Entre um e outro edifício, com uma paragem para cumprimentar um antigo colega de curso ou um professor, ou apenas para admirar um local marcante que em nada se parece com o que era, várias dezenas de alumni, professores e funcionários desfrutaram das inúmeras atividades que a Escola preparou para o dia. Desta vez o mote do evento prometia uma viagem no tempo, e se havia claro uma paragem obrigatória no tempo de cada um no Técnico, foi possível atracar em épocas bem mais longínquas. O “não quero acreditar” competiu várias vezes com o “isto é demasiado giro”, e saíam constantemente da boca dos que vislumbravam exemplares de computadores dos anos 70 no Museu Faraday ou a jarra de Leyden – o antepassado do condensador – que fez furor nos Laboratórios de Química. Entre uma e outra ronda pelos vários departamentos, entre maquetes, exposições fotográficas, experiências de bioengenharia, jogos de tabuleiros matemáticos, legos ou drones era difícil visitar e experimentar tudo, e era ainda mais complicado decidir o que “deixar para a próxima”.
O João e a Beatriz gostaram de viajar no tempo, mas foi na inovação do presente que a atenção deles aterrou por longos minutos. Beatriz ficou fascinada com os robôs do Instituto de Sistemas e Robótica( ISR) , João não queria parar de descobrir como são feitos os carros do Formula Student Lisboa( FST Lisboa) . Filhos de um economista e uma engenheira do Técnico, Ana Silva, confessam que a mãe tem “ganho aos pontos” ao pai na tarefa de os persuadir a seguir Engenharia daqui a uns anos. “A minha mãe fala muito da magia da Engenharia, diz várias vezes que é aqui que se constrói o futuro”, solta João. “ E fala com tantas saudades que hoje viemos com ela matar saudades e ver se nos diz a verdade”, acrescenta Beatriz num tom brincalhão. A mãe está preparada para os guiar por todas as memórias que tem. “ Sei que em cada sítio que passar vou ficar tentada a partilhar uma história, e que no final do dia eles terão a certeza de que efetivamente aqui se fazem coisas muito giras”, declara a alumna.
Mas não só de antigos alunos se fazem os regressos. António Carvalhosa, ou só “senhor Carvalhosa”- como lhe chamam quase todos os antigos alunos, também regressou. Trabalhou quarenta anos no Técnico e “não podia deixar de vir num dia tão especial”. Além de funcionário no Departamento de Matemática, era o cúmplice dos alunos finalistas no célebre lançamento dos foguetes. Por cada ano que demoravam a acabar o curso, o “senhor Carvalhosa” lançava um foguete. Hoje pelo Técnico “se pudesse lançava os 107”. “ Na verdade não é preciso foguetes, a festa faz-se com as pessoas, com o abraço dos reencontros”, corrige-se de seguida. “O Técnico é daqueles sítios que nunca se esquece mesmo que fiquemos anos sem voltar”, finaliza antes de passar para mais uma rodada de abraços.
Ao final do dia, os resistentes deixam aterrar o cansaço e as saudades num cantinho à frente do Pavilhão Central. Por lá, antes dos parabéns e do brinde, o presidente do Técnico, professor Arlindo Oliveira, partilhava o seu desejo: “Espero que se tenham divertido e aprendido”. Inês e Leonor já tinham ido embora mas certamente o sorriso e o cansaço delas serviria de resposta. Beatriz e João ficaram com a mãe até ao fim. “ Afinal era tudo verdade! E agora somos três a ter saudades”, confessavam-nos no final, prometendo que “para o ano somos nós que arrastamos a mãe”. “Há mais para o ano não há?”, questionava Beatriz.