Campus e Comunidade

Museu Faraday – espólio de equipamentos históricos em exposição no Técnico celebra oito anos

Moisés Piedade, professor aposentado do Técnico, deu a conhecer parte daquilo que o Museu tem para oferecer aos visitantes.

Com uma série de estalidos e outros ruídos mecânicos, o disco selecionado foi levantado por uma garra e, uma vez colocado na posição correta, uma agulha de gira-discos pousou suavemente sobre ele, lançando os primeiros acordes de Último Blues. A canção de Chico Buarque, numa versão vocalizada por Gal Costa, propagou-se a partir da jukebox no meio de uma das salas do Museu Faraday do Instituto Superior Técnico, espalhando-se ao encontro das dezenas de objetos dispostos naquele espaço. Oscilógrafos, osciloscópios, geradores de sinal, telefones, gravadores estereofónicos, rádios a válvulas, televisões, máquinas fotográficas, computadores, placas de circuito integrado, auxiliares de audição, contadores de eletricidade e outros equipamentos (alguns estendendo-se até ao século XIX) eram banhados pela canção que saía da jukebox parcialmente desmontada, permitindo aos presentes vislumbrar os seus mecanismos internos.

A visita deu-se numa data especial – 6 de fevereiro de 2025, ocasião do oitavo aniversário da inauguração deste Museu, situado na Torre Norte do campus Alameda do Técnico. Moisés Piedade não poupou quaisquer surpresas e, ao longo da tarde, apresentou as salas repletas de dispositivos relevantes à história da eletricidade, das telecomunicações e da acústica, entre outras áreas. Aposentado desde 2012, o professor do Técnico é um dos fundadores do Museu e um dos voluntários que se ocupa do seu funcionamento.  Autointitula-se “colecionador de vários tipos de objetos”. Desde criança que se deixou fascinar pela capacidade de gravar a voz de alguém e, no caso da rádio, por “como se fazia a voz de uma pessoa sair de uma caixa”.

A caixa, desta vez, era um gravador ‘Akai’ de 1962. Moisés Piedade colocou as duas bobinas a rodar com um leve zumbido e um novo tema encheu a sala –Nachtrijders, uma ode neerlandesa à profissão de camionista. “Temos objetos que são únicos e uma diversidade muito grande”, anunciou o docente, com um gesto na direção dos ecrãs iluminados do gravador. “Coisas da física, da ótica, da eletrotecnia, da química… este não é só um museu de eletricidade”, acrescentou.

Oriundo da aldeia de Marquinho, no concelho de Ansião, foram a paixão pelo trabalho manual e a componente prática que o encaminharam para o Técnico cedo na sua vida académica. Quando estudava no Instituto Industrial, as mesas nas salas de aula tinham laterais em ferro fundido, com o brasão do Técnico embutido. Ao reparar no pormenor, o futuro colecionador sobressaltou-se. “Isto quer dizer que no Técnico também se faz coisas?!”, pensou, decidindo ingressar na Escola pouco depois.

Da sua vontade de “fazer” e “pôr em prática”, surgiria uma vida repleta de projetos, com destaque recente para o seu envolvimento no ISTSat-1, o primeiro nanossatélite universitário português a ser lançado para o espaço, tendo sido totalmente desenvolvido no Técnico. Mesmo depois do lançamento, o trabalho não está concluído – dois dias antes da conversa, estivera a montar uma nova estação de controlo remoto para o ISTSat-1, de forma a evitar o ruído eletromagnético que se tem verificado na estação sita no campus Taguspark, de onde têm sido feitas as operações em torno do pequeno satélite.

De volta à Terra, ainda se ouvia música country neerlandesa na sala principal do Museu Faraday. Moisés Piedade fez as fitas do gravador estacar com o pressionar de um botão e encaminhou-se para uma sala diferente, onde a banda sonora seria outra – uma rápida sucessão de estalidos enquanto uma pequena bobina de Tesla ionizava o ar circundante. Relâmpagos em miniatura formavam-se instantaneamente na ponta de uma agulha vertical, enchendo a sala escura de uma luz arroxeada, para logo depois desaparecerem. Uma visitante corajosa perguntou ao professor se era seguro aproximar a mão, fazendo-o depois de um aceno do docente.

“Antes da pandemia, o museu recebia mais de 2000 pessoas por ano”, informou Moisés Piedade, incluindo “muitas crianças em visita de estudo”. À espera dos próximos visitantes estão ainda objetos como o espetrómetro de desvio constante, o kit pedagógico de microondas, o dínamo de Gramme e a ampola de Wehnelt, entre outros itens dignos de episódio no podcast 110 Histórias, 110 Objetos da Escola.

Ao fim de oito anos, o Museu Faraday continua de portas abertas a todos os curiosos, com visitas às tardes de segunda e quinta-feira e, acima de tudo, muitas histórias para contar.

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