Abílio Ferreira tem 75 anos de idade e tornou-se num dos mais recentes Mestres em Engenharia de Materiais do Técnico. A 29 de janeiro 2021 defendeu a tese “A aquacultura e os materiais do passado ao presente”, 55 anos depois de ter entrado no Técnico pela primeira vez e visto o número 10099 estampado no cartão de estudante. Terminou o curso de Engenharia Metalúrgica e de Materiais em 1979 (teve de interromper o curso por duas vezes por razões de saúde) e acumulou experiência em várias empresas internacionais do sector metalúrgico. Foi fundador e professor convidado durante 6 anos do Instituto Politécnico de Setúbal, no curso de Engenharia Mecânica e ainda formador para a indústria aeronáutica no projeto Embraer. Desde 2007 que se dedica fundamentalmente a projetos com ligação ao mar e aquacultura, alguns deles em colaboração com o Técnico. Dos seus tempos de estudante guarda memórias inesquecíveis como o cerco e ocupação pela polícia, nos anos 60, e “a dimensão desconforme” do único computador da Faculdade. “O Técnico é a minha segunda casa, um sentimento do coração”, conta-nos.
O que recorda do dia-a-dia no Técnico nos anos 60?
Abílio Ferreira (A.F): A escola de cidadania participativa que o Técnico foi. O colosso das Matemáticas Gerais e a subtileza da Química Inorgânica. O cerco e ocupação do Técnico pela polícia.
Que momento(s) nunca esquecerá dessa altura?
A.F: Da minha inscrição no Técnico, em agosto de 1966, juntamente com a minha mulher, tendo eu ficado com o nº 10099 e ela com o 10100. A sirene do Técnico a chamar para as aulas, que conferia um ar fabril à atividade. A dimensão desconforme do único computador do Técnico: para realizarmos o trabalho de programação em FORTRAN, tivemos que nos deslocar (todos os alunos), às instalações da IBM, donde regressámos com um montão de cartões perfurados.
O que o levou a voltar agora o Técnico para concluir o Mestrado?
A.F: Não voltei ao Técnico com o propósito de realizar o Mestrado, mas sim o realizar projetos no âmbito do Mar Português nas suas necessidades tecnológicas. O Mestrado é uma consequência natural por proposta e insistência do Prof. João Bordado, no âmbito dos trabalhos que fomos realizando desde 2015.
Que diferenças sentiu entre o ensino de agora e dos tempos da licenciatura?
A.F: O ensino atual é mais participativo, e existem mais bolsas voltadas para a investigação.
Uma palavras para os futuros engenheiros e cientistas do Técnico:
A.F: O que se estuda no Técnico é o grande alicerce da futura atividade profissional (mesmo quando a atividade parece distante do curso), conferindo competências em diversas áreas, nomeadamente na avaliação do projeto técnico-económico, engenharia de detalhe e outras/gestão, permitindo o acesso a uma cultura científica e social abrangente.
Projetos para o futuro:
A.F: Continuar a trabalhar em projetos na área do Mar/Aquacultura: recuperação da biodiversidade, defesa da orla costeira e dos fundos marinhos. No que respeita às tecnologias e materiais utilizados nos equipamentos. Responder aos grandes desafios, superar desafios da Aquacultura Oceânica em associação com fontes de energia renováveis.