O empreendedorismo ofuscou, esta quarta-feira, 18 de abril, as centenas de peças de geologia que dominam o Museu Décio Thadeu, algumas com muito brilho e com muitas histórias guardadas, mas ainda assim não tantas como as que Carlos Abreu e João Fernandes, os convidados de mais uma edição do Alumni E. Stories tinham para partilhar. No momento em que se sentaram, cruzando a experiência do passado no Técnico com o engenho de inovar que pauta o presente de ambos, conduziram os ouvintes numa narrativa onde o medo do futuro não influencia decisões, e onde o autoconhecimento soa ao único “superpoder” necessário para singrar no mundo do empreendedorismo.
Chega a ser curiosa a forma como numa fração de minutos, sem qualquer contacto anterior, duas personalidades algo distintas se alinham tão bem num diálogo, sem quase serem necessárias perguntas, as ideias saltitam entre um episódio e outro, uma motivação e um objetivo, num caminho que para a audiência é difícil deixar de querer seguir, dada a paixão que serve de paisagem nos relatos. O Técnico e a aprendizagem retirada durante o percurso académico, as softskills que os destacaram à entrada do mercado de trabalho, os primeiros desafios profissionais, o rápido crescimento nas empresas por onde passaram, e o avassalador ímpeto de empreender iam-se sobrepondo nas intervenções, num ritmo muito próprio de cada um dos oradores convidados, com um realismo que se temperava frequentemente com golpes de humor.
Carlos Abreu formou-se em Engenharia Mecânica e rapidamente arranjou trabalho numa consultora. Era feliz no que fazia e tinha uma equipa realmente fantástica, mas a determinada altura “sentia que já não estava a aprender o suficiente, a desafiar-me a mim mesmo”. E foi aí que uma conversa num quiosque com o seu atual sócio lhe abriu as portas do empreendedorismo: “percebemos que havia ali uma necessidade de mercado e começou ali a nascer a Drivit”. A startup do qual o alumnus do Técnico é fundador é uma solução tecnológica que permite ao condutor ver o risco que tem em ter um acidente, tudo à distância de uma aplicação gratuita que analisa estilos de condução. Apesar de não poder ser mais feliz a fazer o que faz prefere não “romantizar o conceito de empreendedor”. “O percurso é muito complicado e penoso, é uma autêntica montanha russa, e é muito importante conhecerem-se a vocês mesmos principalmente como e se serão capazes de lidar com os fracassos”, disse o alumnus. Ainda assim, e mesmo que sem querer, não deixa de conotar a esta sua escolha profissional todo um caráter positivo e fascinante: “é sentir que estamos a causar impacto, na sociedade, no dia das pessoas, é chegar a casa ao final do dia e perceber que fizemos alguma coisa para mudar a forma como as coisas estavam de manhã quando saímos”, declara o co-fundador da Drivit.
Da mesma maneira pensa João Fernandes, co-fundador e CEO da ODYSAI- uma empresa que se foca no desenvolvimento de vários produtos inovadores usando inteligência artificial. O alumnus, que depois de se formar em Engenharia Informática e de Computadores, rapidamente atingiu o topo da “escadinha que é uma carreira”, aproveitou todos os erros que lhe aparecem no caminho em prol do seu sucesso. “Quando me candidatei ao Técnico enganei-me no curso, e acabei por entrar em Engenharia de Minas. Queria mudar de curso, mas tinha que esperar um ano, então fiz as cadeiras necessárias e simultaneamente comecei a trabalhar”, conta arrancando várias gargalhadas. Chegou a CEO de uma multinacional, e se esse era o seu objetivo, quando lá chegou, rapidamente se cansou. Denota-se-lhe nas palavras uma ousadia inata, e se houver dúvidas o alumnus dissolve-as: “Foi nos momentos em que errei que mais aprendi, porque é nessas alturas que somos confrontados com algo que não estamos à espera. Por isso se querem um conselho: errem o máximo possível”. Criar algo seu, “algo que todos os dias me dá prazer fazer, e do qual até me custa tirar férias”, foi o caminho que o CEO da ODYSAI encontrou para se satisfazer profissionalmente, “sem medos”. “O maior prazer nisto tudo é que todos os dias eu posso reinventar o meu mundo, descobrir coisas novas”, frisava posteriormente.
Conselhos não faltaram durante a mais de uma hora e meia que durou a sessão, e apesar de terem perspetivas distintas em vários aspetos, Carlos Abreu e João Fernandes, o primeiro mais realista e o segundo mais positivista, fizeram questão de deixar claro que “apesar de estar na moda, não há mal nenhum em não serem empreendedores se não quiserem, o mais importante é terem realmente fome de aprender e evoluir seja na vossa ou em outra empresa”, referia o co-fundador da Drivit. Para os que como eles optarem por o ser, revelam que um dos truques para vingar é o networking. “Ao longo da vossa vida criem redes, vínculos emocionais, porque isso vai ajudar-vos muitas vezes na vida. Comigo, por exemplo, essas redes fizeram com que quando não havia nada concreto, essas pessoas investissem em nós sem hesitar”, partilhou João Fernandes. Àfrente de duas ideias de futuro, os dois alumni vão constituindo as suas equipas com base na confiança, cimentando “uma cultura de empresa que é fulcral para que ela cresça, para que todos se sintam motivados a contribuir para isso”, delimita o alumnus de Engenharia Mecânica. E se no final dia alguma coisa correr mal, “porque de certeza que se não correr hoje vai correr amanhã, são os fundadores que estão lá para filtrar tudo”, e se esse papel “não é fácil” como ambos assumem, “tem valido muito a pena”, referiram ambos, sob várias formas, ao longo de toda a conversa. Afinal como lançou o CEO da ODYSAI: “pessoas resilientes e capazes vencem sempre, se não for neste projeto, há-de ser em outro”.