A docente do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC) e investigadora do INESC-ID, professora Isabel Trancoso, foi recentemente distinguida com a Medalha de Serviço Especial da International Speech Communication Association (ISCA) pelo serviço sustentado à associação e à comunidade desta área, em termos de “liderança, divulgação e reconhecimento da sociedade”.
“É sempre muito bom sentir que apreciam o nosso trabalho”, afirma a professora Isabel Trancoso, comentando a prestigiosa distinção. A docente do Técnico ainda se recorda da mensagem que lhe foi enviada, há alguns anos, pelo atual presidente da associação e que dizia: “Thank you for making us feel like a community’” [Obrigado por nos fazer sentir como uma comunidade]. “Aquela frase, na altura, já me tinha sabido a medalha”, confessa a docente do Técnico. Ao longo de mais de 20 anos, foram apenas 8 os distinguidos com a ISCA Service Medal.
Além de presidente da ISCA entre 2007 e 2011, a docente do Técnico foi titular de outros papéis de liderança na associação assumindo, também, a presidência do ISCA Distinguished Lecturer Selection Committee, e do ISCA Fellow Selection Committe. “Tive a enorme sorte de suceder nesses cargos a grandes pioneiros da investigação em processamento de fala com quem aprendi muito. Não há como descrever essa mais-valia”, refere a investigadora do INESC-ID.
No exercício destas funções na liderança da ISCA, a docente do Técnico consegue apontar aquela que foi a sua maior dificuldade: “Há quem goste de pertencer a Boards porque considera isso um cargo honorífico. Lidar com essas pessoas foi a minha maior dificuldade como presidente da associação, porque dependemos sobretudo do trabalho de voluntários e torna-se difícil depender de quem não tem disponibilidade. Felizmente eram exceções”, partilha. Por outro lado, “lidar com as iniciativas bottom-up dos estudantes foi a experiência mais gratificante”, assegura a docente, confessando que isto foi também algo que teve oportunidade de experienciar no Técnico, enquanto presidente do DEEC e ao interagir com os núcleos de estudantes.
A professora Isabel Trancoso tem bem presente um episódio “hilariante” da sua presidência, no seguimento do qual ocorreu o “agravamento do meu horror a discursos”, confessa. “Foi em Brighton, na sessão de abertura da conferência Interspeech de 2009. Devido a uma mudança de slides à última hora, quando tentava homenagear 3 prestigiados investigadores que tinham falecido durante esse ano, o slide que apareceu foi o dos 3 Co-Chairs da conferência que estavam na mesa atrás do pódio”, recorda. “Não sei como consegui acabar o discurso, com as altas autoridades locais à minha frente na plateia, estando tão perdida de riso”, relata, ainda. A investigadora do INESC confessa que ainda hoje, e muito devido a esse episódio, detesta pódios e palcos, preferindo “mil vezes uma aula de laboratório cheia de alunos com quem posso conversar do que uma teórica frente a um enorme anfiteatro”.
A investigadora do INESC-ID destaca o crescimento da associação, ao longo dos últimos anos,“a par com o enorme progresso verificado nos últimos anos nas tecnologias da fala que são já, hoje em dia, parte essencial da sociedade digital”. “Lembro-me muito bem dos primeiros anos, mesmo no final da década de 80, em que as nossas conferências tinham apenas umas centenas de participantes, o que dava para nos conhecermos quase todos e fazer muito bons amigos, com backgrounds muito diferentes”, lembra a professora Isabel Trancoso. Para a investigadora do INESC-ID “a interdisciplinaridade é uma das mais-valias da associação. “É muito mais que uma associação de engenheiros especialistas em processamento de sinais acústicos, ou especialistas em processamento de língua natural. É uma comunidade muito diversificada, em que outras áreas como a linguística, têm também um papel primordial”, frisa, ainda, a docente do Técnico.
De acordo com a professora Isabel Trancoso “o equilíbrio entre ‘speech technologies’ e ‘speech science’ foi sempre uma linha mestra da associação, bem como o facto de vivermos num mundo multilingue em que uma língua não deve morrer por falta de recursos linguísticos que suportem o seu desenvolvimento tecnológico”. Também o apoio a estudantes é apontado pela docente como “uma das atividades mais bem-sucedidas”. “O envolvimento da indústria é cada vez maior, mas não são só os ‘gigantes’ que marcam presença – tais como Google, Amazon, Microsoft, Facebook, Apple, Baidu, etc. – como também as startups, incluindo as Portuguesas, o que é ainda mais motivante”, sublinha.
Ainda que a honra desta medalha seja inquestionável e esteja patente nas palavras da docente, percebe-se facilmente pelas mesmas que não ultrapassa “o imenso orgulho de ter ajudado a construir esta comunidade, a definir e manter as suas prioridades”.