A professora Joana Gonçalves de Sá, antiga aluna do Técnico, e atualmente docente do Departamento de Física(DF) e investigadora do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), está nomeada na categoria “Ciência” para os Prémios Activa Mulheres Inspiradoras 2020.
A docente do Técnico assume a honra que esta nomeação lhe suscita. “Algumas das outras mulheres nomeadas são pessoas que admiro muito, por isso estar no mesmo grupo que essas colegas é uma honra imensa”, salienta.
A alumna do Técnico considera que esta nomeação pode ter tido sido motivada quer pela multidisciplinaridade da sua carreira, quer pelo “trabalho que tenho desenvolvido em prol da educação da Ciência dentro e fora de Portugal”. É que além da intensa atividade científica, a professora Joana Gonçalves de Sá coordena a Iniciativa Ciência e Sociedade e é diretora do Programa em Ciência para o Desenvolvimento, destinado a melhorar a educação e investigação científica nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Para a docente, a importância destes galardões é clara, permitindo“não só para dar a conhecer o trabalho das nomeadas como também reconhecer o papel impactante das mulheres em várias áreas”. “A investigação em torno desta questão mostra que é muito mais difícil conseguir levar para frente alguns projetos quando se é mulher, e no mundo da Ciência existe, claramente, um enviesamento”, refere a professora Joana Gonçalves de Sá. “É também por isso que estes prémios existem porque tipicamente nos outros há um enviesamento muito grande na nomeação de homens”, salienta a docente. “Por um lado, esperaríamos que nesta altura já não fosse necessário este tipo de discriminação positiva, mas, por outro lado, as evidências são avassaladoras e mostram que estamos muito longe de conseguir a igualdade”, adiciona, manifestando ainda o seu agrado para com a diversidade patente no leque de nomeadas.
O estudo do comportamento humano através dos dados, da Inteligência Artificial e de outras técnicas experimentais e computacionais
No LIP, a professora Joana Gonçalves de Sá coordena o grupo de investigação em “Social Physics and Complexity – SPAC”. Através de técnicas experimentais e computacionais (big data e sistemas da complexidade) o seu grupo de investigação estuda o processo decisório, principalmente em política e saúde.
“O trabalho que fazemos na minha equipa de investigação tem muito a ver com aquilo que lá fora se começa a chamar as Ciências Sociais Computacionais que é a tentativa de responder a perguntas sociais, de comportamento”, começa por explicar a docente do Técnico. Uma das vertentes da investigação está relacionada com a identificação de surtos de doenças através da análise de dados digitais. “Muitas vezes, antes de as pessoas irem ao médico vão ao ‘doutor Google’, e a inserção dos sintomas como dados de pesquisa permite a quem faz a monitorização destas pesquisas em tempo real seguir as doenças de uma forma muito mais rápida do que aquilo que os médicos tradicionais conseguem. São medidas complementares de epidemiologia”, evidencia.
Por outro lado, a equipa está também envolvida no estudo das fake news. “Tentamos perceber como é que as pessoas estão infetadas por esse vírus de desinformação, como é que este se espalha na comunidade, usando muitos dos princípios epidemiológicos para estudar o comportamento da desinformação”, expõe. Através deste trabalho, tentam perceber a suscetibilidade dos indivíduos a esta falsa informação, como é que essa a informação se espalha, e o papel das redes sociais e das redes de ligação humanas neste processo. “Neste momento, estamos a lutar contra duas epidemias em paralelo, a epidemia do vírus e a epidemia de desinformação, e estranhamente as duas acabam por se espalhar de formas muito semelhantes”, alerta. “No fundo, tentamos responder a perguntas que são do âmbito das Ciências Sociais, mas usamos métodos computacionais para o fazer”, denota.
Uma carreira pautada pela multidisciplinaridade
Depois de se graduar em Engenharia Física Tecnológica no Instituto Superior Técnico, a alumna fez o doutoramento em Biomedicina, através do Programa Gulbenkian, e desenvolveu a sua tese em Biologia de Sistemas na Universidade de Harvard, EUA.
Entre 2012 e 2018 foi investigadora principal no Instituto Gulbenkian de Ciência. Receberia em 2019 uma bolsa do European Research Council (ERC) para estudar o papel dos enviesamentos do comportamento na partilha de Fake News.
Nesta diversidade de escolhas e de caminhos que foi fazendo, a amplitude de conhecimentos que adquiriu no curso de Engenharia Física Tecnológica foi crucial. “O curso ofereceu-me uma formação muito abrangente e uma capacidade bastante grande de identificar e resolver problemas”, destaca. A transição para a biologia molecular foi “muito tranquila”, apesar de ter feito “muito trabalho de bancada” e de se ver obrigada a aprender uma série de conceitos, problemas e técnicas da área, como partilha. “Acho que a Biologia é dos campos que mais facilmente integra pessoas que vêm de outras áreas”, sublinha. A experiência mais teórica que teve no Técnico e que depois mesclou com uma vertente mais experimental durante o doutoramento deram-lhe a confiança para começar a explorar outras áreas. “Uso muito do que aprendi de análise matemática e estatística no meu trabalho, mas também uso muito da maneira de pensar da Biologia para o desenho experimental dos projetos que temos em mãos”, vinca.
De acordo, com a docente do Técnico apesar de tendencialmente se irem “dividindo as ciências em caixinhas, acho que o método científico, o sistema de se tentar chegar ao conhecimento é comum a todas as ciências”.
Este ano, o júri do Prémio Activa Mulheres Inspiradoras escolheu quatro nomeadas nas seguintes categorias: Artes, Ciência, Desporto, Negócios, Solidariedade e Sustentabilidade. A tarefa coube ao júri constituído por Maria de Belém Roseira, Conceição Zagalo, Luís Marques Mendes, Mafalda Anjos e Natalina de Almeida. As vencedoras serão anunciadas em breve.
Além da alumna do Técnico, estão também nomeadas nesta categoria, a professora Clara Sousa e Silva, investigadora da Universidade de Harvard, a professora Patrícia Costa Reis, pediatra no Hospital de Santa Maria, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e investigadora no Instituto de Medicina Molecular, e ainda a professora Joana Cabral, investigadora do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde na Universidade do Minho.