Durante oito horas ininterruptas foram cerca de 30 os jovens que se debateram, na passada quarta-feira, 26 de junho, por um lugar na equipa que irá representar Portugal na European Cyber Security Challenge 2019, uma competição de cibersegurança promovida pela ENISA. Portugal ainda não se tinha feito representar na competição, mas este ano e com a organização do CyberSecurityChallengePT o panorama alterou-se. No próximo mês de outubro a equipa apurada, da qual fazem parte sete alunos do Técnico, rumará a Bucareste para representar da melhor forma as cores nacionais.
O apuramento dos 10 jogadores foi feito no CyberSecurityChallengePT, uma iniciativa organizada conjuntamente pelo Centro Nacional de Cibersegurança (CNC), o Instituto Superior Técnico e a Universidade do Porto e que contou com o apoio da Associação Portuguesa para a Promoção da Segurança da Informação (AP2SI). O professor Pedro Adão, docente do Departamento de Engenharia Informática (DEI) do Técnico esteve diretamente envolvido em toda a organização e reitera a importância de ter uma equipa a representar Portugal nesta importante competição. “Cabe à organização local decidir como é que faz a seleção das dez pessoas que compõem a equipa. A restrição da ENISA é que sejam 5 pessoas entre os 15 e os 20 anos, e 5 pessoas entre os 21 e os 25 anos”, explica o docente. “Foi um grande orgulho ver este evento tornar-se realidade, e ver Portugal representado pela primeira vez neste evento Europeu”, frisa de seguida.
A competição da qual saiu apurada a seleção nacional consistiu nas habituais Capture the Flag (CTF) da área da cibersegurança, com desafios de criptografia, vulnerabilidades de código, ataques web, análise forense, etc. Entre os 10 selecionados estão Baltasar Dinis, João Borges, Marcelo Santos, Manuel Goulão, Manuel Sousa, Nuno Sabino e Vasco Franco, todos alunos do Técnico e elementos da Security Team do Técnico (STT). “Naturalmente por termos uma equipa de cibersegurança grande, acabamos por ter muitos representantes na competição, mas cada um dos jogadores jogou individualmente”, explica o professor Pedro Adão, também coordenador da STT.
A experiência que detêm da equipa e a vontade de aprender mais ditaram a candidatura de Baltasar Dinis e de muitos dos seus colegas. “É sempre um desafio interessante. Nós quando decidimos ir às competições é sempre para ir aprender”, assinala Baltasar. O facto de irem competir diretamente com aqueles que habitualmente são os companheiros de equipa não os assustou nem demoveu. “Normalmente quando competimos em equipa vamo-nos ajudando uns aos outros, e isso é uma mais valia claro porque ninguém é bom em todas as áreas. Desta vez dependíamos só de nós mesmos, mas no fim o balanço foi bom e mostramos que também somos bons a título individual”, declara o aluno Manuel Sousa. “Não é à toa que a STT está bem posicionada no ranking mundial é porque eles investem muitas horas a resolver estes problemas, e é obvio que quem mais investe mais recompensa terá, e isso ficou provado nesta competição”, explica por sua vez o professor Pedro Adão. “E por isso foi um grande segundo motivo de alegria ver a equipa tão bem representada nos dez escolhidos para a final europeia”, assinala ainda.
Manuel Sousa foi o 1.º classificado do Top 10 do CyberSecurityChallengePT, e revela que na estratégia para tal passou por muito foco e persistência na resolução de todos os problemas. “Não houve um truque, eu fiz o melhor desempenho na minha área e só isso já me garantia classificação, não precisava de ter ficado no top. Depois aproveitei o tempo que me restava para fazer mais exercícios de outra área onde também tinha alguns conhecimentos, fazendo o maior número de pontos no menor tempo possível. E foi isso que me ajudou a assegurar o primeiro lugar”, explica o aluno do Técnico.
A equipa nacional contará então com sete alunos do Técnico, e mais três jovens da Universidade do Porto. “Agora mudamos o paradigma, eram 10 concorrentes e agora temos que transformar essas 10 pessoas numa equipa”, declara o professor Pedro Adão. Para tal a organização está a discutir um plano de treino como adianta o docente do Técnico: “gostávamos de organizar um evento de uma semana em que juntássemos os 10 alunos para se criar o espírito de equipa e estamos a trabalhar nisso”. O facto de sete destes selecionados fazerem habitualmente parte da STT pode ser uma mais-valia. “Além disso, sendo os outros três alunos da Universidade do Porto, não são desconhecidos porque já nos cruzamos em algumas competições e já participámos em 2 competições juntos, e, portanto, já temos uma parte do trabalho feito”, lembra o professor Pedro Adão. “De qualquer forma é sempre preciso colar as peças. Temos que perceber quem pode contar com quem em quê. Perceber quais os pontos fortes e saber quem procurar quando for preciso resolver uma situação muito especifica porque isso é muito importante numa equipa”, argumenta de seguida.
No meio da conversa com alguns dos convocados torna-se inevitável tentar identificar o Ronaldo desta equipa, mas rapidamente a tentativa é abafada pelo sentido de equipa e pela estratégia por detrás da sua constituição. “Um dos problemas quando estávamos a organizar esta fase de seleção era precisamente perceber como é que no final não acabávamos com dez ‘Ronaldos’, porque é importante termos bons avançados, mas precisamos também de bons médios e bons defesas”, evidencia o professor Pedro Adão. O desafio foi ultrapassado, tendo sido a própria competição delineada de modo a escolher os melhores em cada uma das áreas. “Acho que conseguimos construir uma equipa bastante homogénea, sinto que temos 10 jogadores com valências diferentes e uma boa equipa”, afiança ainda.
Felizes com a conquista, e prontos para fazer jus à garra que carateriza os portugueses, os alunos assumem que vão dar o seu melhor, mas preferem não fazer muitos prognósticos. “Vai ser a primeira vez que estamos a participar neste evento e por isso não temos bem a noção do que vamos encontrar, mas gostávamos de ganhar e vamos dar o nosso melhor”, frisa Baltasar Dinis. O professor Pedro Adão não podia estar mais de acordo: “encaramos esta primeira participação como uma experiência piloto. Para já o importante era começar e acho que ficou claro para todos que esta iniciativa tem que prosseguir todos os anos, e até num regime mais alargado”.