Acolher a cerimónia de entrega do Prémio Científico IBM é abrir as portas ao talento, à vontade de reconhecer e elogiar o mérito, o trabalho árduo e a vontade de inovar. É também ter a oportunidade de olhar para o futuro de perto: as áreas e os potenciais grandes protagonistas destas. Menos de um ano depois da última cerimónia, o Técnico voltou esta terça-feira, 17 de dezembro, a ter a honra de acolher o prestigiante evento, enquanto instituição de ensino do vencedor do galardão: Afonso Teodoro, antigo aluno do doutoramento em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores.
A sala do Pavilhão de Informática que acolheu o evento revelou-se pequena para a vontade de saudar os vencedores do prémio e da missão honrosa do Prémio IBM, cujo vencedor foi Manuel Carneiro, aluno da Universidade de Coimbra. Depois das merecidas felicitações, seria na primeira fila da audiência que os protagonistas do evento seriam fulminados pelo leque de elogios endereçado pelos diversos intervenientes. De lá só sairiam para orgulhosamente mostrar o trabalho que os distinguiu e para ofuscar qualquer outro detalhe com a paixão com que os apresentavam. A família, amigos, docentes e orientadores dos contemplados não faltaram, e seriam testemunhas da exposição de um talento que já conheciam e que agora o mundo vislumbra.
O presidente do Técnico, professor Arlindo Oliveira, seria o mensageiro dos primeiros elogios e agradecimentos ao talento dos jovens e ao seu reconhecimento por parte da IBM. “É com grande prazer que mais uma vez recebemos aqui tão ilustre audiência para a entrega deste prémio”, começaria por afirmar, frisando que esta é “uma iniciativa que eleva o país e prestigia esta área científica”. Não resistindo em partilhar a “maioria absoluta do Técnico” nos prémios IBM, uma vez que dos 29 prémios concedidos, 15 foram atribuídos a trabalhos de investigação da instituição, o professor Arlindo Oliveira afirmaria que este deve ser “um motivo de orgulho para todos nós”. “É também o reflexo do esforço que temos sempre colocado na excelência da investigação, e especialmente que mostra a qualidade dos nossos alunos”, acrescentou.
O Presidente da IBM Portugal, António Raposo de Lima, também enfatizou os 15 prémios já entregues a alunos da escola, saudando “o presidente do Técnico pela liderança, e por ter juntamente com a sua equipa continuar a promover este ambiente que gera e incentiva estas mentes brilhantes”. Fazendo referência à consistência deste galardão “único em todo o mundo IBM, com destaque na Europa e no Mundo”, o presidente da empresa lembrava o leque prestigiante de premiados que têm sido e serão o “futuro do nosso país, muito para além da academia, serão o futuro empresarial e da sociedade”. “É sem dúvida um prémio que reconhece os líderes do futuro”, frisava. Depois de elogiar o júri “que empresta qualidade, dinâmica e exigência a este prémio”, António Raposo de Lima salientaria os recordes de candidaturas atingidos nos últimos anos, e elogiava o talento e a jovialidade dos vencedores deste ano. Depois de uma breve referência ao trabalho, longevidade, carácter disruptivo e áreas estratégicas da IBM Research, o líder da empresa salientou que “Portugal reúne condições únicas para estar na linha da frente da inovação e na transformação tecnológica”. Como o próprio referiria por fim, é também disto que este prémio trata: o reconhecimento do talento e das competências nacionais.
“Temos tido o privilégio e a honra de termos escolhido trabalhos muito bons”
Na sua alocução o professor Carlos Salema, presidente do júri que atribuí o prémio, faria questão de agradecer aos jurados o trabalho intenso e difícil que executam para conseguir escolher um vencedor, recordando também o prestígio que distingue este galardão, em muito devido ao lote de vencedores de todas as edições. “Temos tido o privilégio e a honra de termos conseguido escolher trabalhos muito bons. E temos essa convicção ao olharmos para o percurso de todos os vencedores e para a carreira que construíram”, afirmou. Ao felicitar os dois trabalhos que se destacaram nesta 29.ª edição, o professor Carlos Salema não resistiria a lançar a Afonso Teodoro o desafio de transformar “esta tese brilhante num produto”. Por fim, o presidente do júri deixava uma “palavra muito sentida de agradecimento à IBM pela persistência” com que tem abraçado este prémio. “Em Ciência não há muito prémios no nosso país, e este galardão sobressai porque insiste no reconhecimento do que melhor se faz nesta área”, disse.
Far-se-ia depois silêncio para ouvir os distinguidos do dia: Manuel Carneiro, vencedor da menção honrosa foi o primeiro a expor com orgulho e entusiasmo o trabalho realizado – um dispositivo eletrónico têxtil, low cost, completamente flexível, que permite a aquisição de electroencefalogramas (EGG) de forma bastante mais confortável e durante períodos mais longos do que aqueles que tecnologia atualmente estabelecida permitia. “Extremamente confortável, mais estético, pode ser usado diariamente, é reutilizável e lavável”, ia elencando o aluno da Universidade de Coimbra para demonstrar o valor do seu produto. “É um método bastante fiável que nos permite criar bandas de EGG adaptadas às necessidades de cada doente”, destacava de seguida. Por fim, e já com audiência seguramente convencida, o jovem fez questão de agradecer a iniciativa, realçando a sua convicção de que “este prémio terá decerto um grande impacto na minha carreira futura”.
O brilho no olhar esteve sempre lá durante a apresentação de Afonso Teodoro, mas não ofuscou todo o conhecimento que ia demonstrando ao falar do trabalho com que venceu o Prémio Científico IBM. Na sua apresentação, o alumnus abordaria a motivação que o orientou no desenvolvimento deste trabalho, passando depois em revista as ideias por detrás do método desenvolvido e ilustrando algumas das principais possíveis aplicações do mesmo. “Toda a gente sabe que grande parte da informação é visual, no entanto, a maioria das imagens que nos chegam não tem a melhor qualidade”, começava por frisar o antigo aluno do Técnico. Para conseguir trabalhar sobre estas imagens e garantir que a sua qualidade não vai atrapalhar a utilidade das suas aplicações, Afonso Teodoro desenvolveu uma técnica que promete melhorar a qualidade das imagens. Uma alternativa que, segundo as palavras do vencedor, segue a estratégia de “dividir para conquistar”, “tentando converter o problema original numa sequência de problemas mais simples”.
Explicando as componentes em que este modelo assenta, Afonso Teodoro saciaria a curiosidade da audiência ao validar as potencialidades deste algoritmo, demonstrando não só como é que o mesmo recupera a informação da imagem, mas também como é que pode ser usado em várias classes de imagens. “Uma das possíveis aplicações para esta metodologia é a reconstrução de imagens de ressonância magnética, permitindo através de um número reduzido de amostras obter a informação desejada”, referia. O foco e segmentação de documentos e a fusão de imagens hiper/multiespectrais foram as outras aplicações apontadas como interessantes. Em jeito de conclusão, e antes de receber das mãos do ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, o merecido prémio, Afonso Teodoro evidenciava que “esta metodologia é capaz de lidar com vários problemas distintos, tirando partido de modelos probabilísticos que são aprendidos através da própria imagem ou através de imagens da mesma classe”.
O encerramento da sessão ficaria a cargo do ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior que reiterou o valor desta iniciativa. “Sabemos o registo e a responsabilidade que é ter o prémio IBM quando olhamos para o percurso dos vencedores deste galardão”, afirmou, frisando o papel relevante das instituições de ensino no desenvolvimento destes brilhantes trabalhos. Fazendo referência à atual conjuntura nacional em termos de Ciência e Tecnologia e lembrando a recuperação dos últimos anos, o governante salientava a enorme ambição de continuar a crescer. “Estes prémios são também importantes neste sentido, são formas de identificar ideias com potencial e pessoas sem as quais não podemos crescer”, vincou. Reforçando a necessidade de criar postos de trabalho qualificados em Portugal, e sublinhando que esse deve ser “um esforço coletivo, e fruto da articulação entre as instituições do sector público e privado”, Manuel Heitor sublinhava que é fulcral que “os cidadãos de uma forma geral percebam porque é que temos que investir em Ciência”. E argumentos para tal não faltam nos trabalhos distinguidos nesta cerimónia, como lembraria o ministro: “A tese do Manuel mostra que a ciência cura, e a tese do Afonso mostra que não há limites para o conhecimento”, afirmou o governante. Para terminar, Manuel Heitor endereçaria um elogio ao Técnico “pela capacidade científica e técnica que todos reconhecemos, a nível nacional e europeu e que se reflete também no facto da maioria dos vencedores deste prémio serem alunos desta escola”.