“Na escuridão em segredo, eu canto o meu medo não mais te abraçar”, a estrofe do tema “Noites de Luar” certamente reflete o pensamento de tantos nestes tempos de pandemia tão avassaladores na limitação da proximidade, nomeadamente para os mais seniores, agravando tantas vezes situações de solidão profunda. Foi a pensar em tudo isto, que a Tuna Universitária do Instituto Superior (TUIST) decidiu sair à rua e parar à janela de alguns moradores da Freguesia do Areeiro, presenteando alguns moradores com uma serenata.
A iniciativa nasce uma troca de ideias entre a Junta de Freguesia do Areeiro e a TUIST. “Ambas as partes se mostraram interessadas de imediato e a ideia desenvolveu-se naturalmente”, recorda Miguel Mendes, um dos elementos da tuna envolvidos nestas serenatas. Da ideia à prática foi literalmente um saltinho, dado com muita vontade, e no dia 29 de junho, a TUIST levou a sua música a várias ruas da Freguesia.
Munidos de máscaras, dos instrumentos, da alegria que os carateriza e da vontade de fazer da música uma arma de arremesso à solidão, a TUIST percorreu várias moradas, encantando quem estava à janela, os vizinhos e também quem por ali passava, com uma das mais emblemáticas tradições académicas portuguesas. Tudo feito à distância, como a pandemia continua a exigir, ainda que a proximidade se estreitasse à medida que a melodia avançava. A iniciativa serviu também para assinalar o Dia Europeu da Música, que se celebra a 21 de junho.
Num só dia foram mais de 30 as pessoas, com mais de 65 anos, contempladas com uma serenata. As inscrições para a iniciativa excederam as expectativas e a Junta de Freguesia do Areeiro teve mesmo que as encerrar antes do suposto o que por si só – e além da emoção causada – prova o sucesso da iniciativa. Em cada janela, uma ou duas músicas, ouviam-se originais da TUIST, como o “Auto da Ilusão” e “Noites de Luar”, ou outras melodias mais populares como a tão conhecida “Menina estás à janela”.
“As serenatas foram muito bem-recebidas, em especial por aqueles que não tiveram oportunidade nos últimos tempos de quebrar a monotonia presente na sua vida – os mais idosos”, conta Miguel Mendes.
A ideia ou a data poderiam muito bem ter sido repensadas pelos tunos, tendo em conta a carga de trabalhos de quem está em plena época de exames, no entanto, nem isso demoveria a vontade de levar alento às pessoas que há mais de um ano não saem de casa e se sentem muitas vezes tristes e sozinhas. “Dada a oportunidade e graças à dedicação dos nossos membros foi possível conjugar os estudos com os ensaios e atuação”, realça o tuno.
Depois do último acorde, ecoava a gratidão. “A sensação que tivemos durante esta sessão de serenatas foi muito gratificante e é certo que não esqueceremos muitas das reações que as pessoas foram tendo enquanto nos assistiam: desde o choro ao riso, havendo até quem tenha dito ‘Saudades dos tempos em que tinha 28 anos’”, conta o membro da TUIST. Dado o sucesso e sobretudo o sentimento recompensador que a iniciativa deixou em cada um dos tunos, fica no ar a vontade de a repetir: “voltar a realizar algo deste género é uma possibilidade que estamos a estudar, caso a evolução da pandemia o permita”, adianta Miguel Mendes.