O professor João Sanches, docente do departamento de Bioengenharia e investigador do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) do Técnico, em colaboração com o grupo de Raquel Seruca do i3S/IPATIMUP, Universidade do Porto, desenvolveu um ensaio novo, simples e eficaz para estudar o impacto funcional de proteinas de adesão na organização intercelular e assim detetar risco aumentado para cancro.
A adesão intercelular é crucial para manter a arquitetura dos tecidos normais e a E-caderina é uma proteina vital para assegurar que células vizinhas se mantenham ligadas umas às outras de forma a estabelecer um epitélio funcional. Quando a E-caderina não funciona adequadamente, as células ficam menos adesivas e o tecido menos organizado, que é uma das características observadas no cancro.
Esta constatação é a base da nova proposta de análise da adesão celular a partir de imagens de microscopia em que a distribuição celular é representada e caracterizada por grafos não orientados que permitem inferir o valor patológico de mutações de E-caderina.
O grafo é uma malha densa e não uniforme de elementos triangulares que definem o sistema de vizinhança entre células adjacentes e cujos nós são os centros dos núcleos que neste tipo de imagens foram previamente marcados com um marcador de fluorescência, o DAPI. A caraterização da rede resultante, o seu nível de distorção e a comparação com populações normais é feita a partir do cálculo de estatística das características morfológicas e dimensionais dos triângulos tais como áreas, dimensões dos lados e excentricidade, de forma a medir o impacto das mutações E-caderina na organização celular.
Os autores deste trabalho verificaram que esta metodologia é capaz de distinguir mutações da E-caderina que causam perturbações da adesão celular e que estão associadas a risco aumentado para cancro invasivo e clinicamente agressivo.
Os resultados desta investigação representam uma nova oportunidade para estudar uma ampla gama de proteínas que podem ter impacto na organização celular dos tecido. Além disso, pode ser utilizada como uma nova plataforma para testar novas drogas que possam promover a adesão intercelular e assim impedir a invasão e a metastização.
Este trabalho, que acabou de ser publicado na revista Scientific Reports, foi financiado pela Associação Americana de Doentes com Cancro Gástrico Hereditário “No Stomach for Cancer” no âmbito do prémio internacional que a equipa do ISR/IST e do Ipatimup/i3S recebeu em 2015.