Olhar para o modelo à escala do Flexcraft, a aeronave modular que esta terça-feira, 28 de janeiro, foi apresentada no Técnico é como estar dentro de um filme de ficção científica e, ao mesmo tempo, poder vislumbrar o futuro em tempo real. O Flexcraft resulta de um consórcio de instituições, entre as quais está o Técnico, mas também a Almadesign, o Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI), a Sociedade de Engenharia e Transformação, S.A.(SET.SA), e a Embraer Portugal, e promete ser o “veículo multiusos do céu” com inúmeras vantagens associadas.
Desenhado para voo autónomo ou semi-assistido, o Flexcraft foi concebido de forma modular – separando a asa da fuselagem -, o que permite a utilização de uma mesma asa autónoma com diferentes cabines para diferentes missões. A versátil aeronave tem apenas 13 metros de comprimento e capacidade para nove passageiros. Fácil de operar, ágil e registando baixos níveis de consumo, esta aeronave tem tudo para ser bem-sucedida. “A modularidade do conceito é a sua característica mais diferenciadora, aliada à possibilidade de a operação de voo ser entregue a uma entidade certificada e especializada, permitindo deste modo que os utilizadores possam contratar a sua operação sem as necessárias qualificações aeronáuticas”, salienta o professor Fernando Lau, docente do Técnico e um dos investigadores envolvidos neste projeto. Do lote das inúmeras potencialidades, o docente do Técnico destaca também “a concentração de tecnologia na asa que permite o desenvolvimento das fuselagens com uma menor necessidade de certificações aeronáuticas, o que coloca a sua fabricação e comercialização ao alcance da indústria nacional”.
Por detrás de toda esta inovação, desvendada na apresentação do resultado final, esteve uma equipa multidisciplinar que se empenhou ao máximo nas várias etapas do projeto, iniciado em finais de 2016. A equipa do Técnico “liderou a atividade de elaboração do conceito, explorando as várias hipóteses que foram estudadas ao nível conceptual”, como explica o professor Fernando Lau. “Mais tarde, [a equipa] foi responsável pelo desenvolvimento do projeto conceptual da aeronave à escala real, assim como do projeto preliminar e detalhado, seguido do desenvolvimento do demonstrador à escala 1:10”. A execução de todos os ensaios estruturais e de voos relacionados com o demonstrador ficou também a cargo dos investigadores do Técnico.
Na sessão de lançamento, que contou com representantes de todas as entidades envolvidas no consórcio e de muitos curiosos, foi possível perceber não só a inovação presente no projeto, esta versatilidade da aeronave, mas também a sensação de espetacularidade que gera a quem com ele contacta.
O presidente do Técnico, professor Rogério Colaço, presente na sessão fez questão de realçar que “o Técnico enquanto instituição com uma grande competência nesta área tem todo o interesse em estar a colaborar neste consórcio e envolvido neste projeto inovador”. “Espero que esta colaboração continue a dar bons frutos como tem dado até hoje”, referiu ainda.
Coube a José Rui Marcelino, CEO da Almadesign, apresentar o projeto, percorrendo as várias etapas em que o mesmo se desdobrou, a evolução que foi sofrendo e deixando bem presente o carácter disruptivo do projeto, permitindo ao consórcio “participar nas novas soluções de mobilidade aérea urbana e suburbana”. “Os veículos autónomos aéreos com soluções de transporte flexíveis e de menor custo operacional vão revolucionar a mobilidade aérea regional”, sublinhava de seguida.
Para o professor Fernando Lau o envolvimento das universidades nestes projetos é extremamente relevante. “Tratam-se de projetos onde o desenvolvimento de novos conceitos é crucial e onde a Academia pode verdadeiramente contribuir; por outro lado, permite que os investigadores participem no desenvolvimento do estado da arte, facilitando ao mesmo tempo, o contacto dos seus alunos com a indústria”, reitera o docente do Técnico.
Depois da apresentação, os participantes da sessão puderam satisfazer a curiosidade na exposição do átrio do pavilhão central, onde além de um modelo à escala real e um demonstrador de processo, foi possível percecionar, através de uma experiência de realidade virtual, aquela que será a experiência dos futuros passageiros desta aeronave.