Tiago Morais, antigo aluno de doutoramento do Técnico e investigador do Centro de Ambiente e Tecnologia Marítimos – MARETEC, foi um dos vencedores do Prémio de Doutoramento em Ecologia- Fundação Amadeu Dias atribuído pela Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO). A tese de doutoramento em Engenharia do Ambiente, intitulada “Studies in quantitative environmental modelling of agricultural land use systems: Fit stuff in a lot of stuff” está na origem deste reconhecimento e garantiu ao investigador do Técnico o 3.º lugar.
Tiago Morais afirma que é um “privilégio ter recebido esta distinção” e assume que ficou surpreso com atribuição do prémio, uma vez que, como explica, “as minhas áreas de investigação não são as tipicamente abordadas no estudo da ecologia mais ‘tradicional’”. “Ainda assim, esta distinção mostra a importância do estudo da ecologia ambiental e da agroecologia através de novas abordagens, como balanço de massa de nutrientes e também através da utilização de novos dados e modelos”, realça.
O trabalho de doutoramento em questão – orientado pelos professores Tiago Domingos e Ricardo Teixeira, docentes do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) – focou-se na avaliação quantitativa do impacte do uso do solo nos ecossistemas terrestres.
“A minha tese foi bastante multidisciplinar e multiescala. Indo desde a utilização de ferramentas para a avaliação da sustentabilidade de sistemas agrícolas específicos em Portugal ou avaliação de sustentabilidade de alternativas de dietas e sistemas de produção a nível global. E abordando áreas tão distintas como a avaliação de ciclo de vida até modelos de aprendizagem automática para melhorar a caracterização de sistemas agrícolas”, explica Tiago Morais.
A avaliação de sistemas agrícolas foi o fio condutor da investigação, e “apesar de abordar diferentes áreas, o foco foi sempre encontrar abordagens que permitam avaliar e melhorar a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, pois eles são fundamentais para a existência humana”, destaca. Através da sua investigação, o investigador do MARETEC pretende mostrar “que abordagens simplistas “não nos levam a esse objetivo”, e que as melhores ‘respostas’ são muitas vezes “complexas e, às vezes, difíceis de alcançar”, como refere.
Num dos capítulos da tese mostra-se que a produção biológica não conseguiria alimentar a humanidade, independentemente das dietas humanas, devido à limitação de azoto, um nutriente essencial para a produção agrícola. O mesmo trabalho apontou uma agenda concreta de investigação e desenvolvimento, tanto para a agricultura biológica como convencional, que pode garantir a sustentabilidade dos sistemas alimentares.
As ferramentas quantitativas para melhorar a gestão de sistemas alimentares desenvolvidas no decorrer da investigação estão agora a ser adaptadas para realizar a deteção e determinação do estado de pastagens semeadas biodiversas no Alentejo, utilizando apenas dados remotos e aprendizagem automática e serão utilizadas pelo Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) para a avaliação de conformidade na atribuição de subsídios.
Para o investigador do MARETEC a “multidisciplinaridade e a agregação de áreas tipicamente tão ‘distantes’ terá sido o principal elemento diferenciador” da sua tese. “No ‘mundo’ da ecologia não é normal ver investigação que agregue todas essas áreas”, sublinha, evidenciando que esta integração é “cada vez mais necessária” uma vez que os “problemas que são endereçados à investigação científica são cada vez mais complexos e desafiantes e onde a investigação ‘uni-disciplinar’ falha cada vez mais a dar resposta”. É com esta visão e vontade de contribuir nesta caminho que o investigador do MARETEC olha para o futuro, realçando que o Técnico é mesmo “o local ideal para desenvolver e potenciar a investigação multidisciplinar” pois “existem polos de conhecimento em áreas tão diferentes que aqui podem encontrar pontes de ligação”.
O Prémio de Doutoramento em Ecologia- Fundação Amadeu Dias resulta de um acordo de cooperação assinado entre a SPECO e a Fundação Amadeu Dias e procura valorizar os trabalhos dos jovens doutores portugueses desenvolvidos ao longo do seu doutoramento na área da Ecologia. Para além de avaliar o currículo de cada candidato, o júri tem em consideração o interesse, originalidade e inovação para a ciência do projeto desenvolvido pelos candidatos. Os três melhores classificados recebem um prémio monetário (1.º- 3000 €; 2.º- 2000 € e 3.º- 1000 €).