Sabia que Portugal é um país com elevado risco sísmico, e com uma faixa costeira considerada como zona de alto risco de ocorrência de tsunami? Sabia que a chegada das ondas sísmicas e a das ondas de um tsunami podem demorar entre 20 a 30 minutos na melhor das condições? Está a par do que tem de fazer e para onde ir para se proteger? Pois bem, a melhor forma de proteger a população é dotá-la de informação, colocando ao dispor dos cidadãos sistemas de alerta que lhes permitam ter uma resposta rápida e precisa perante qualquer um destes fenómenos. É isso mesmo que a Câmara Municipal de Portimão está a fazer, contando com a ajuda e a experiência de um grupo de investigadores do Técnico.
A equipa de investigadores do CERIS- Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade, composta pelo professor Carlos Sousa Oliveira, pela investigadora Mónica Amaral Ferreira e pelo investigador Francisco Mota de Sá, está diretamente envolvida no plano de redução do risco sísmico e de tsunamis desenvolvido para a Câmara de Portimão. O envolvimento dos investigadores do Técnico teve início com a “Revisão do Plano Diretor Municipal de Portimão – Estudo sectorial sobre o risco sísmico” que deu origem à Carta de Risco Sísmico de Portimão onde estão também contempladas as zonas suscetíveis de inundação por tsunami. “Após apresentação deste trabalho, a Câmara Municipal de Portimão/Serviço Municipal de Proteção Civil solicitou o nosso apoio para iniciar o processo de implementação de um sistema de alerta e a definição de áreas seguras para o plano de evacuação em resposta a um alerta de tsunami”, narra a investigadora Mónica Amaral Ferreira.
Este projeto que conta com a experiência e perícia dos investigadores do Técnico insere-se no Plano Diretor Municipal (PDM) de Portimão e permitirá a implementação de uma rede de sirenes que emitirá um alerta de tsunami pelas autoridades competentes. “A partir do momento em que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) lança o aviso aos meios da Proteção Civil o operador de telecomunicações de emergência aciona as sirenes automaticamente”, explica a investigadora do CERIS. Outra das ações do projeto é a colocação de sinalética que permita aos cidadãos perceber quais os locais de risco de tsunami e os acessos a zonas seguras.
A primeira sirene deste projeto seria instalada no ano de 2018, e no mês de fevereiro deste ano mais duas reforçariam o sistema de alerta, que até ao final de 2022 deverá contar com um total de sete sirenes. Por esta altura deverá estar finalizada a fixação da sinalética que indica os locais de risco de tsunami e os acessos a zonas seguras, bem como as campanhas de sensibilização da população.
A cidade de Portimão, bem como a restante região do Algarve, encontra-se situada numa zona que pode ser profundamente afetada por um sismo e tsunami tal como o que ocorreu em 1755. Por isso mesmo o desenvolvimento de mapas de risco sísmico, onde se conjuga informação sobre perigosidade, vulnerabilidade nas construções e densidade populacional, e de mapas de inundação atingida por um tsunami são cruciais. “Os mapas de risco permitem ter uma avaliação crítica do nível de risco de onde se encontram implantados o edificado, os equipamentos colectivos e infra-estruturas críticas”, sublinha a investigadora do CERIS. Em face disso, o grupo de investigadores definiu um conjunto de princípios orientadores, recomendações e especificações que nortearão o desenvolvimento de uma estratégia de intervenção. “Os efeitos colaterais dos sismos, tais como deslizamentos e queda de arribas, liquefacção e tsunamis foram acautelados no estudo e apresentadas medidas para prevenir e reduzir esses efeitos”, evidencia Mónica Amaral Ferreira.
A definição dos corredores de evacuação, bem como a localização de sirenes para alerta de tsunami, foi feita conjuntamente entre os investigadores do CERIS, o Serviço Municipal de Proteção Civil e o Departamento de Planeamento Urbano de Portimão.
O envolvimento da equipa do CERIS neste plano deve-se à experiência tanto nas áreas de avaliação e redução do risco sísmico e de tsunamis, contribuindo para o apoio à decisão nos domínios do ordenamento do território e urbanismo, assim como na área da educação, comunicação e sensibilização do risco para a população. “O facto de sermos uma equipa multidisciplinar permite-nos ter uma visão global e integral seja no diagnóstico como na solução dos problemas”, afirma a Mónica Amaral Ferreira.
“Uma vez que os terramotos e tsunamis não se podem impedir nem prever, são iniciativas como esta que permitem conviver melhor com a hipótese de eles ocorrerem, cumprindo-se ainda um dos principais objetivos da investigação: a ligação à sociedade”, declara a investigadora do CERIS. “Portugal é um país com risco sísmico, e com uma faixa costeira considerada como zona de alto risco de ocorrência de tsunami, dado a sua proximidade e posição livre de obstáculos em relação à zona de fratura Açores-Gibraltar, nomeadamente à planície abissal da Ferradura e Banco Submarino de Gorringe, onde a maior parte dos sismos que afetam Portugal Continental têm origem”, recorda Mónica Amaral Ferreira. Um estudo integrado, como este, que agrega vários fatores, deveria, de acordo com a investigadora do CERIS, “ser obrigatório e adotado nos estudos de risco sísmico e de tsunami dos nossos municípios”.