O projeto BIG (Blockchain technologies and design Innovation for social Good) liderado por dois investigadores do Instituto Superior Técnico, dos laboratórios associados ITI/LARSyS e INESC-ID, foi um dos contemplados com uma “ERA CHAIR”- no âmbito do programa Spreading Excellence and Widening Participation (Widening) incluído no Programa-Quadro de apoio à investigação e à inovação da União Europeia, o Horizonte 2020. Durante os próximos 5 anos a equipa liderada pelos professores do Departamento de Engenharia Informática (DEI), Nuno Jardim Nunes (ITI/LARSyS) e Rodrigo Miragaia Rodrigues (INESC-ID) vai ter à sua disposição um financiamento de 2,5 milhões de euros. Esta “ERA CHAIR” e o financiamento que dela provém permitirá formar uma equipa interdisciplinar dedicada à investigação de topo em tópicos que combinem as oportunidades tecnológicas da blockchain, a inovação pelo design e o desenvolvimento de novas soluções para os desafios societais que se impõem.
As tecnologias blockchain permitem estabelecer um registo de transações de forma altamente fiável, e completamente distribuída, sem que haja a necessidade de confiar numa entidade central para manter esse mesmo registo. Pela abrangência de aplicação, a União Europeia considera estas tecnologias fulcrais para o futuro, uma vez que as mesmas possibilitam o aparecimento de serviços digitais transparentes, confiáveis, centrados no utilizador, e a promoção de inovações sociais bem como novos modelos de negócio com maior nível de descentralização. Reunindo as inúmeras potencialidades desta tecnologia, o BIG pretende aprimorá-las e aplicá-las em vários domínios como a saúde, energia, cidadania digital, transportes, ou as indústrias criativas.
Assumindo a satisfação por integrarem o lote restrito de investigadores contemplados com as “ERA CHAIRs”, os docentes frisam a importância deste apoio comunitário. “Era uma ambição nossa conseguir um financiamento substancial para o Técnico poder afirmar um polo de excelência numa tecnologia emergente e acima de tudo integrando competências de várias unidades de investigação”, declara o professor Nuno Jardim Nunes. “Esta ERA CHAIR representa uma oportunidade única de juntar investigadores com diferentes perfis e de diferentes laboratórios associados na área das tecnologias de informação, para criar sinergias que nos permitam competir com os melhores grupos nesta área a nível mundial”, afirma o professor Rodrigo Miragaia Rodrigues, que já tinha obtido uma bolsa “starting grant” do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês), em 2012, para melhorar a fiabilidade da computação em nuvem.
Combinando os esforços dos dois laboratórios associados, e a experiência dos dois docentes que lideram o projeto, esta “ERA CHAIR” é vista como “uma oportunidade para reafirmarmos a liderança do Técnico, do ITI/LARSyS e do INESC-ID numa área emergente que tem grande procura por parte da indústria e pode ser aplicada a novas áreas de grande impacto social”, como destaca o professor Nuno Jardim Nunes que já em 2014 liderou uma “ERA CHAIR”, a primeira entregue a projetos nacionais. “O Rodrigo é o especialista na tecnologia de cloud. Eu estou mais preocupado em como uma tecnologia potencialmente disruptiva poderá ser aplicada na resolução de problemas concretos com impacto social”, explica ainda o docente do Técnico, salientando o quanto a tecnologia blockchain pode ser “disruptiva e útil” para resolver vários desafios societais.
A blockchain é já, e como nos ajuda a perceber o professor Nuno Jardim Nunes, usada em muitas áreas, apesar de a sua aplicação tender a ser associada apenas à área financeira. “Por exemplo, nas indústrias criativas esta tecnologia é usada para proteger os direitos de autores ou nas cadeias de distribuição globais para garantir que os produtores em países menos desenvolvidos são devidamente retribuídos”, refere o investigador do ITI/LARSyS. “Mesmo agora a WHO [organização mundial de saúde, na sigla em inglês] acabou de lançar uma blockchain para tentar ajudar a partilha de dados e a confiabilidade dos mesmos na gestão da pandemia. É um bom exemplo de como esta tecnologia distribuída pode ser utilizada para gerir um fenómeno global em que os dados que pertencem aos doentes podem (e devem) ser partilhados por todos”, refere, ainda, o docente do DEI.
O BIG é também um projeto que pretende fazer a ponte com o ecossistema empresarial, prova disso mesmo é o envolvimento de inúmeras empresas no mesmo. “Temos várias empresas já envolvidas no projeto, muitas delas do ecossistema que foi criado em torno da parceria Carnegie Mellon Portugal”, esclarece o professor Nuno Jardim Nunes, destacando a abertura para que mais parceiros industriais se juntem ao mesmo. “Um dos objetivos que temos é potenciar um ecossistema de inovação que junte universidade, empresas, e uma geração de novas startups tecnológicas altamente inovadoras, entre as quais estão várias empresas classificadas de unicórnio que apoiaram a proposta desta ERA CHAIR”, destaca o professor Rodrigo Miragaia Rodrigues. “Neste ecossistema, o Técnico, em conjunto com as suas unidades de investigação, pretende afirmar-se como um elemento agregador, que junta a investigação de topo em meio académico aos desafios de engenharia que são colocados pelas empresas e organizações societais”, salienta, ainda, o investigador do INESC-ID.
Além de colegas no DEI, os docentes são também co-diretores da parceria internacional da Carnegie Mellon Portugal, e por isso mesmo a cooperação necessária neste projeto não será de todo difícil de alinhar. O professor Nuno Jardim Nunes confessa que pelo facto de as áreas de investigação dos dois investigadores serem bastante distintas “a colaboração na escrita de uma proposta deste tipo acabou por ser um estímulo interessante”. “Talvez, sermos os mais jovens catedráticos do DEI e virmos de fora da escola tenha tornado a colaboração mais natural. Para nós a competição está fora da escola, a nível internacional”, sublinha o docente.
No total, os investigadores portugueses arrecadaram 34 milhões com 22 projetos aprovados nos “concursos Twinning” e “ERA CHAIRs” no âmbito do programa “Spreading Excellence and Widening Participation (Widening)”. Para o professor Nuno Jardim Nunes estes números refletem o mérito e a inovação que pauta a investigação nacional. “Portugal tem sido sistematicamente um dos países que melhor tem sabido tirar partido das oportunidades do H2020. Este ano penso que 9/20 (quase 50%) das propostas financiadas foram de Portugal o que é um motivo de orgulho para todos e de grande vitalidade do nosso sistema científico”, afirma o docente do DEI. “A investigação e a ciência em Portugal tem conseguido resultados impressionantes, sobretudo tendo em conta que os orçamentos das nossas universidades e centros de investigação é significativamente inferior ao das instituições com quem competimos diretamente”, aponta, por sua vez, o professor Rodrigo Miragaia Rodrigues.