Sempre que a órbita do ISTSat-1 sobrevoa Oeiras, independentemente da hora, há sempre alguém a tentar descodificar os sinais que o satélite envia para a Terra, no polo do Instituto Superior Técnico no Taguspark, na Estação de Rastreio de Satélites (ERS-IST). Especialmente durante a noite, quando o ruído eletromagnético é mais baixo, a equipa de investigadores do Técnico descodificou já vários pacotes de telemetria que trouxeram boas notícias: as antenas abriram corretamente; o algoritmo que “trava” a rotação do satélite após o lançamento funcionou, estando este praticamente parado; os painéis solares estão a funcionar e a bateria está carregada; a temperatura dos vários sistemas, apesar de baixa (cerca de 4 ºC), está de acordo com as previsões. Para além disso, experimentou-se emitir comandos para o satélite tendo-se obtido, da parte deste, a correspondente resposta. “Este conjunto de informações indica que o ISTSat-1 está estável e, em geral, a funcionar como o esperado”, explica João Paulo Monteiro, investigador do Instituto Superior Técnico.
O único fator a melhorar é a força dos sinais do ISTSat-1, que têm chegado a Terra mais fracos do que o esperado. “A baixa potência dos sinais recebidos sugere que pode haver problemas com a transmissão do satélite”, explica João Paulo Monteiro. “Dessa forma a equipa do ISTSat-1 está agora focada em encontrar soluções para melhorar a receção do sinal, seja através da instalação de antenas com mais ganho na ERS-IST e através da implementação de algoritmos de correção de erros na descodificação”, complementa. Estas soluções serão testadas ao longo das próximas semanas, sendo expectável que seja então possível retomar a operação nominal do satélite. A partir dessa altura começará a ser possível testar a capacidade de deteção da presença de aviões em zonas remotas. Depois de ter sido injetado em órbita, com sucesso, pelo foguetão Ariane 6, no dia 9 de julho, o ISTSat-1 encontra-se numa órbita baixa circular a 580 km da Terra.
Do lançamento do Ariane 6 aos primeiros sinais do ISTSat-1 recebidos em Terra
Às 20h (hora de Lisboa) do dia 9 de julho, após anos de adiamentos e expetativa, o mundo testemunhava a ascensão bem-sucedida do foguetão da Agência Espacial Europeia, Ariane 6. Dentro seguia também o ISTSat-1, primeiro satélite totalmente construído em Portugal, no Instituto Superior Técnico, que alguns minutos depois acabou por ser libertado no Espaço e estabelecido a sua órbita a uma altitude de 580 quilómetros.
“Nas horas que se seguiram ao lançamento, a busca pelos sinais do ISTSat-1 foi bastante complexa: foram lançados oito satélites em simultâneo e não existindo informação precisa sobre onde encontrar o ISTSat-1, o rastreio foi, sobretudo, um trabalho de paciência”, conta João Paulo Monteiro.
Passadas umas horas do lançamento, chegou a notícia que a equipa aguardava: um radioamador belga ouviu e gravou o primeiro sinal do ISTSat-1 – o beacon do satélite – um sinal codificado em Morse que transmite pouca informação, mas que facilita a sua localização. No dia seguinte, a ERS-IST conseguiu ouvir o mesmo sinal. Apesar de mais fraco do que o esperado, este sinal trouxe a confirmação de que o ISTSat-1 estava “vivo” e em órbita.
Nos dias seguintes a informação sobre a localização do satélite, providenciada pelo North American Aerospace Defense Command (NORAD), tornou-se mais precisa. Depois de alguns ajustes no equipamento, a ERS-IST conseguiu receber os primeiros sinais de telemetria digital do ISTSat-1. A somar ao trabalho efetuado por investigadores do Técnico na Estação de Rastreio de Satélites (ERS-IST), no polo de Oeiras, vários radioamadores nacionais têm estado incansavelmente a ajudar a ERS-IST no acompanhamento do ISTSat-1, tendo também conseguido ouvir os seus sinais.
O momento em que o ISTSat-1 saiu do Ariane 6 para o Espaço (Twitter da ESA):
It’s been two weeks since the historic inaugural flight of the Ariane 6, and this just in – we received the video from our friends at #YPSat of our CubeSats being deployed! 🚀
Take a look as the @Exolaunch deployer first releases ³Cat-4, then ISTSat-1 into orbit. Both of these… pic.twitter.com/CYjEbALCE2
— ESA Education (@ESA__Education) July 24, 2024
O ISTSat-1 é o primeiro satélite universitário totalmente desenvolvido e fabricado em Portugal leva dentro muitas horas de trabalho e o contributo de cerca de 50 pessoas, deu origem a mais de 20 dissertações de mestrado, e a superação de várias e exigentes etapas de desenvolvimento, depois de ter sido um dos projetos escolhidos pela Agência Espacial Europeia (ESA) para o programa “Fly Your Satellite!”.
Integralmente feito por estudantes e professores do Técnico, com exceção dos painéis solares, este cubo de 10x10x10 – com arestas com 10cm – tamanho uniformizado internacionalmente para este tipo de aparelhos – explora o potencial da nanotecnologia na eletrónica e leva a bordo cinco placas. Quatro delas são aquilo que se designa por plataforma e que tem de existir em todos os satélites. Todas têm um processador, uma delas é a chamada carga útil do satélite – a placa responsável pela missão – e o resto faz parte da plataforma, incluindo o computador de bordo que controla tudo e o subsistema de comunicações.
O projeto é coordenado por Rui Rocha, professor do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores (DEEC) do Técnico, investigador no Instituto de Telecomunicações (IT) e diretor e um dos fundadores do IST NanosatLab.
* O projeto teve o suporte financeiro do Técnico, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores: Investigação e Desenvolvimento (INESC-ID), do Instituto de Telecomunicações (IT), bem como do Instituto de Engenharia Mecânica (IDMEC). Contou também com a participação de elementos do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-Lisboa), bem como com o apoio de várias empresas ligadas ao sector. O NanosatLab é um consórcio liderado pelo INESC-ID e dirigido por Rui Rocha (IT) e Gonçalo Tavares (INESC-ID).