O projeto “Desenvolvimento de uma unidade de medida inercial de baixo custo para controlo e avaliação do treino de nadadores” foi o vencedor dos Prémios Ciências do Desporto de 2020 na categoria “Treino Desportivo”. O trabalho tem a rubrica de um aluno do Técnico, Eduardo Félix, e dos seus orientadores, o professor Paulo Correia, docente do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores(DEEC) e investigador do Instituto de Telecomunicações (IT), e o professor Hugo Silva, docente do Departamento de Bioengenharia (DBE) e também investigador do IT. O projeto galardoado foi desenvolvido ainda em parceria com o docente do Instituto Politécnico de Leiria, professor Pedro Morouço.
“Sinto-me muito orgulhoso com o que foi feito e alcançado por todos. É sempre muito gratificante ver o nosso trabalho valorizado”, declara Eduardo Félix. Esta satisfação estende-se evidentemente aos seus orientadores: “o reconhecimento externo do trabalho realizado constitui uma grande honra e funciona como uma validação adicional da estratégia seguida”, declara o professor Hugo Silva. O professor Paulo Correia salienta ainda o quão “gratificante” é poder “colaborar numa equipa multidisciplinar em que todos sempre manifestaram grande empenho no trabalho”.
A ideia principal do trabalho premiado seria desenvolver um sistema que ajudasse treinador e atleta nos treinos do dia-a-dia, na prática da natação. “Algo que fosse prático, de baixo custo, e que entregasse os indicadores de desempenho necessários para a correção da técnica dos atletas, e consequente melhoria de performance”, começa por explicar Eduardo Félix. A equipa utilizou uma unidade inercial de medida para recolher os dados e técnicas de processamento de sinal para extrair deles os indicadores necessários. “Os resultados obtidos foram bastante positivos”, prossegue o aluno do Técnico. Se por um lado, a precisão do algoritmo desenvolvido situou-se entre os 90% e os 100% nos vários indicadores de performance desenvolvidos, por outro desenvolvemos 3 novos indicadores nunca antes propostos”, sublinha Eduardo Félix. O professor Hugo Silva salienta ainda como uma das características particularmente distintiva deste projeto: “a aliança da componente científica à componente de engenharia”.
O trabalho de investigação daria origem ao desenvolvimento de uma aplicação web que permite de forma simplificada o acesso aos dados recolhidos pela unidade inercial de medida e a produção automatizada de um relatório da sessão. “É também possível a geração de relatórios em lote para registos de vários atletas. Este trabalho tem por isso um grande potencial de transposição para a prática desportiva no curto prazo”, frisa o docente do DBE.
Lembrando que “nesta área todos os dispositivos fiáveis são bastante caros, de difícil utilização e manutenção”, Eduardo Félix explica que a equipa na génese deste projeto optou por “utilizar um dispositivo de baixo custo, que pode ser adquirido por qualquer atleta e que atinge igualmente muito bons resultados”. Para o aluno esta “relação custo-qualidade que o nosso projeto consegue entregar ao utilizador pode ter sido um dos fatores decisivos para esta distinção.
O professor Paulo Correia acredita que “também o potencial do dispositivo e do sistema desenvolvido para facilmente acomodar novos indicadores de performance e outros tipos de análise que se venham a revelar importantes” foram importantes para a escolha deste projeto como um dos vencedores dos Prémios Ciências do Desporto de 2020. “A colaboração com especialistas em treino de natação foi muito útil no desenho do protótipo. Esperamos que novos projetos permitam continuar o trabalho e validar os desenvolvimentos”, reitera ainda o docente do DEEC.
“Creio que a abordagem “whole product” e a diversidade de temas que aborda poderá ter funcionado como um fator adicional”, aponta ainda o professor Hugo Silva “Este trabalho apresentou soluções técnicas de ponta-a-ponta, desde aspetos relacionados com o hardware aplicado no atleta, processamento de sinal, aprendizagem máquina, e software de utilizador final, englobando ainda os fundamentos teóricos do domínio de aplicação”, justifica.
A ideia de desenvolver este projeto ligado à área de Ciências do Desporto está diretamente relacionada com a ligação de Eduardo Félix à natação, tendo o estudante do Técnico sido praticante da modalidade durante muitos anos. “Em conversa com o meu treinador, identificámos uma lacuna deste tipo de dispositivos na área da natação, e pensei que poderia ser útil explorá-la no projeto de tese de mestrado”, recorda o aluno.
O professor Hugo Silva faz questão de salientar que “este projeto resulta da motivação intrínseca do Eduardo, do grande empenho e da sua capacidade técnica para a execução do mesmo”. “Teve também o condão de conseguir juntar vários interesses convergentes de especialistas na área da natação, desde o treinador do Eduardo, até especialistas de renome a nível nacional e internacional”, salienta ainda o docente do DBE.
Importa destacar o impacto que este trabalho poderá ter no treino dos atletas desta modalidade, tornando-se uma grande ajuda para corrigir problemas crónicos de técnica dos atletas”, como frisa Eduardo Félix. “Com este tipo de sistema tanto o treinador como cada atleta podem, após o treino, examinar os erros que cometeu, analisando os vários indicadores disponíveis. É um constante e consecutivo trabalho de análise e melhoria, mas que conduz os atletas a um aumento substancial de performance a longo prazo”, afirma o aluno de mestrado.
Atribuídos anualmente pelo Comité Olímpico de Portugal e pela Fundação Millennium BCP, com a parceria da revista VISÃO, os Prémios Ciências do Desporto foram criados com o objetivo de incentivar e distinguir a melhor investigação desenvolvida em Portugal na área das ciências do Desporto.
Ao primeiro classificado de cada categoria é atribuído um valor monetário de 5 mil euros, e cada uma das menções honrosas recebe mil euros, como incentivo à continuidade do trabalho de investigação.