A notícia ainda é de 2018, mas promete dar que falar em 2019 e no futuro. Quatro projetos portugueses inovadores foram selecionados ao abrigo do projeto-piloto do Conselho Europeu de Inovação (CEI) para receber apoio no âmbito do Instrumento PME, e um deles tem, claro, ligação ao Técnico. O projeto ClarifyLupus, da Clarify Analytical– a startup liderada por Alexandra Antunes, investigadora principal do Centro de Química Estrutural( CQE) do Técnico-, compõe assim o leque total de 283 projetos que irão ser inicialmente apoiados com uma bolsa de 50 mil euros.
“A equipa Clarify Analytical sente-se bastante entusiasmada e honrada com esta distinção. Por ser um concurso bastante competitivo a nível europeu para pequenas e médias empresas, que pretende premiar a inovação de novas tecnologias, esta distinção veio certificar que o nosso teste para o diagnóstico precoce de Lúpus é inovador”, refere Alexandra Antunes. “Este foi também um prémio de reconhecimento por termos sido capazes de trilhar este caminho, paralelo às nossas carreiras de investigadores, que nos tem lançado tantos desafios e agora começa a dar os primeiros frutos”, acrescenta de seguida a investigadora.
O Clarify Lupus permite diagnosticar a doença autoimune do lúpus numa fase inicial, estando o teste a ser desenvolvido numa parceria entre o Instituto Superior Técnico, o Centro Hospitalar Lisboa Central (Hospital Egas Moniz) e a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. A génese do mesmo “só foi possível graças ao trabalho de investigação, na área da Toxicologia Molecular, que tenho vindo a desenvolver no Centro de Química Estrutural do Técnico nos últimos 10 anos”, como evidencia a investigadora do CQE. “Só com este trabalho de base foi possível olharmos para o problema do diagnóstico de lúpus de uma perspetiva totalmente diferente daquela até agora abordada e descobrir qual a base molecular que poderá constituir uma marca única dos doentes”, adiciona ainda.
A ideia da fundação da empresa por detrás do teste, a Clarify Analytical, surgiu depois de a equipa de investigadores ter participado no programa COHITEC, em 2016, uma experiência que Alexandra Antunes considera “essencial para termos uma noção mais clara dos passos a dar para transferir uma ideia de base tecnológica para o mercado”. E foi com a experiência e com muita confiança na qualidade do projeto que a equipa se candidatou pela segunda vez ao Instrumento PME, conseguindo integrar a Fase 1 do processo – etapa para a qual terá que ser esboçado um plano de negócios. Este apuramento abre as portas para fase seguinte: o Processo Acelerado para a Inovação, no qual os projetos recebem cerca de 2 milhões de euros para tecnologias inovadoras, conceitos e modelos de negócio próximos do mercado. “Depois desta primeira validação ser-nos-á mais fácil aceder a outros instrumentos de financiamento, que serão essenciais para o caminho que temos a trilhar”, realça a investigadora do CQE.
Ainda que com este reforço financeiro na bagagem, até chegar ao mercado o Clarify Lupus ainda tem um longo caminho a percorrer, algo que Alexandra Antunes prevê que só aconteça dentro de 2 ou 3 anos, e que explica assim: “O processo de entrada no mercado de uma tecnologia como a nossa é, na verdade, muito mais longo, e exige muito mais investimento, quando comparado com outras tecnologias, como por exemplo uma ferramenta informática. Isto deve-se essencialmente à necessidade de passarmos por processos de validação clínica e regulamentares”. Ainda que demore um pouco, é muito provável que num futuro próximo este projeto seja uma solução reconhecida não só para aumentar a esperança de vida dos doentes com lúpus, mas também para melhorar a qualidade de vida destes doentes.