A 6.ª edição das Jornadas de Engenharia Física (JEF) trouxe nos últimos três dias, de 2 a 4 de março, muito conhecimento, teórico e prático, até ao Anfiteatro Abreu Faro. Entre as diversas palestras, workshops, visitas a laboratórios, e um dia que fez a ponte direta para o mercado, foi muito fácil robustecer as valências, e perceber como é que o conhecimento adquirido se pode transformar em oportunidades de trabalho ou ter impacto na investigação que se faz na área da Física.
Depois de um dia dedicado ao mundo empresarial que contou com a presença de profissionais de diversas áreas e empresas- tais como a Lusospace ou a Mercurius Health, a manhã desta quarta-feira abriria a porta a investigadores de vários centros que partilharam o trabalho que têm desenvolvido e o real impacto do mesmo.
Miguel Zilhão Nogueira, investigador do GRIT- CENTRA, abriria o painel de palestras dando a conhecer o mundo da relatividade numérica e a sua aplicação nos vários campos da física. De forma muito acessível- até para os mais leigos na área- o orador começou por abordar as equações de Einstein, explicando o que são buracos negros, ajudando a perceber a sua potência imensa, e ainda esclarecendo como funcionam as deteções gravitacionais. Foi depois altura de cruzar estes dois tópicos com a relatividade numérica, mostrando como se processam os sistemas e do que se trata o formalismo ADM. Por diversas vezes o investigador do CENTRA sublinhou que este é “um campo que apesar de ter levado algum tempo a registar resultados, tem muita maturidade hoje em dia e com utilidade em outras áreas da Física”.
O professor Mário Lino da Silva, professor no Técnico e investigador no Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN), presenteou os participantes das JEF com uma palestra através da qual daria a conhecer o Tubo de Choque Europeu para a Investigação de Alta Entalpia (ESTHER, na sigla em inglês), e o seu papel preponderante no apoio de missões espaciais da Agência Espacial Europeia. “O tubo de choque está instalado no Campus Tecnológico e Nuclear do Técnico, e é um projeto financiado pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) que está em desenvolvimento há cerca de dez anos. Estamos, neste momento, na fase operacional”, referia inicialmente. Depois de explicar a importância dos tubos de choque para a exploração espacial, referindo que os mesmos são preciosos para “um país ou bloco de países, como a Europa, que queira ter acesso ao espaço, simulando experimentalmente as condições de entrada de objetos em planetas, luas ou na Terra”. Dando alguns detalhes mais técnicos sobre o ESTHER, o investigador do IPFN evidenciava “que a ESA não quer apenas uma instalação que tenha alta performance, quer também fiabilidade repetibilidade, qualidade dos resultados e baixo preço”. Demonstrando como se posiciona este tubo de choque no panorama mundial, o docente evidenciou as mais-valias do mesmo, assim como todo o processo em que se dividiu o desenvolvimento do mesmo.
A partilha de conhecimento que pautou as palestras dos dois investigadores é um dos principais objetivos do Núcleo de Estudantes do Instituto Superior Técnico (NFIST) que organiza as JEF. Catarina Neves, um dos elementos da organização, explica isso mesmo: “Tentámos que as palestras fossem o mais diversas possível e quisemos envolver os centros de investigação também nas nossas jornadas”, explica. “Outra das nossas preocupações é incluir no programa palestras mais simples para alunos dos primeiros anos do curso, mas também ter palestras com tópicos mais avançados para também ser estimulante para alunos que já têm mais conhecimento”, vincou.
Depois de 3 dias estimulantes e cheios de atividades, o balanço é, segundo Catarina Neves, “muito positivo”. “Tem corrido bem a nível global. Claro que umas atividades têm mais adesão do que outras, principalmente os workshops que por terem um carácter mais pratico têm esse poder de cativar mais pessoas”, vinca.
Quem olhou para o calendário de eventos do Técnico no último mês não pôde deixar de reparar que além das JEF, o NFIST é também o “causador” da Semana da Física que decorreu há umas semanas. Catarina Neves não pode deixar de realçar que ambos os eventos são essenciais para a equipa do NFIST. “A semana da Física é mais para o exterior, para mostrar que a Física não é um bicho de sete cabeças e que está sempre presente no dia a dia. As JEF são mais viradas para dentro para quem já está a fazer o curso, para tentarmos descobrir o que se faz dentro desta área no Técnico e não só, e para perceber onde é que aquilo que estudamos nas cadeiras pode ser aplicado”, explica a aluna.