Foi apresentada pelo Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN) esta sexta-feira, 19 de junho, numa sessão aberta realizada em modo virtual, a atualização da Estratégia Europeia para a Física de Partículas, adotada unanimemente pelo Conselho do CERN e que deverá guiar o futuro da Física de Partículas na Europa. No seguimento deste anúncio o Instituto Superior Técnico acolhe no dia 2 de julho uma sessão dedicada a explorar o impacto em Portugal desta Estratégia. O evento contará com o do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, e a intervenção remota da Diretora-geral do CERN, Fabiola Gianotti.
Além de uma visão para o futuro próximo, a atualização de 2020 da Estratégia Europeia para a Física de Partículas propõe uma visão de longo prazo que deve servir de orientação ao CERN e permitir uma política científica coerente na Europa. As recomendações Grupo Europeu de Estratégia (ESG, da sigla em inglês) e que deram origem a esta atualização destacam potencial científico, tecnológico, económico e de capital humano da física de partículas.
As grandes prioridades ao nível da investigação nos próximos anos serão o estudo do bosão de Higgs e a exploração da fronteira de alta energia: duas maneiras fundamentais e complementares de abordar as grandes questões em aberto na física de partículas. “A Estratégia é, acima de tudo, guiada pela Ciência e apresenta as prioridades científicas para esta área,” afirma Ursula Bassler, presidente do Conselho do CERN, em comunicado.
O sucesso do LHC-HL (LHC de alta luminosidade) deverá permanecer no centro das preocupações da física de partículas europeia. O projeto que deverá arrancar em 2027 prevê o melhoramento do acelerador LHC e dos seus detetores que permitem a realização de quatro grandes experiências diferentes, e para a contínua inovação tecnológica.
A construção a partir de 2030 de uma “fábrica de Higgs”, um acelerador de partículas eletrão-positrão gigantesco, com um túnel circular de 100 km de comprimento, que permita medir com grande precisão as propriedades do bosão de Higgs, é outro dos planos avançados pelo CERN. Esta fábrica terá dez vezes mais energia do que o atual LHC (Grande Colisionador de Hadrões), o acelerador de 27 km do CERN que descobriu o bosão de Higgs, em 2012, e é considerado a maior máquina do Mundo.
A Estratégia enfatiza também o quanto é importante reforçar a investigação e desenvolvimento (I&D) em tecnologias avançadas de aceleradores de partículas, bem como em infraestruturas de computação, vincando-se que estes devem ser pré-requisitos necessários a todos os projetos futuros.“Esta é uma estratégia muito ambiciosa, que proporciona um futuro brilhante à Europa e ao CERN. Continuaremos a investir em programas de cooperação fortes entre o CERN e os centros de investigação europeus,” declarou Fabiola Gianotti, diretora-geral do CERN, “pois estes são essenciais para o progresso científico e tecnológico sustentável, assim como os benefícios sociais que acarretam.”
O docente do Técnico, o professor Mário Pimenta, delegado de Portugal ao Conselho do CERN e presidente do Laboratório de Instrumentação e Partículas (LIP), considera que esta Estratégia “abre o caminho à exploração de novas fronteiras do conhecimento e vai manter a Europa na liderança da ciência e da tecnologia,” o que, acrescenta, “se traduzirá, como no passado, em enormes impactos diretos na sociedade e no desenvolvimento”. “O ponto principal é manter com um programa ambicioso o CERN e a Europa na liderança da física de partículas e nas tecnologias associadas no Mundo”, refere ainda o docente.
A atualização da Estratégia Europeia para a Física de Partículas anunciada hoje teve início em setembro de 2018, quando o Conselho do CERN, composto por representantes dos Estados Membros e Associados do CERN criou o Grupo Europeu de Estratégia, que liderou com sucesso a reflexão para a qual contribuíram centenas de físicos europeus. A organização tem 23 estados membros e oito associados, incluindo a Rússia, os EUA e a Índia. Em Portugal o centro de investigação que faz a ligação com o CERN é o LIP.
“Tínhamos o programa da alta Luminosidade do LHC em marcha e que vai decorrer ate ao fim da década de 30. Agora temos um horizonte basicamente ate ao fim do século com dois objetivos centrais de Física: a compreensão do campo de Higgs (a fronteira da precisão) e o explorar novas escalas de energias (fronteira da energia)”, resume o representante português no Conselho. “O impacto em Portugal é obviamente na investigação, mas também na formação – e o Técnico tem nos últimos anos muitos engenheiros no CERN- e na indústria”, evidencia o professor Mário Pimenta.
Na sessão que se irá realizar no Campus Tecnológico e Nuclear (CTN) do Técnico, na próxima quinta-feira, 2 de julho, pelas 14h30, o presidente do LIP explica que “estes aspetos vão ser realçados, assim como será também abordado o projecto de instalação de um centro de protonterapia”. Devido à situação de pandemia o número de participantes presenciais no evento será limitado e por isso mesmo a sessão será transmitida on-line.